Os pais não queriam que fosse futebolista. Tinham medo que partisse uma perna. Álvaro Magalhães não só se tornou jogador como ganhou quatro campeonatos, quatro Taças e duas Supertaças pelo Benfica, antes de iniciar a carreira de treinador.
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Álvaro Magalhães, 55 anos, está de regresso ao ativo como treinador depois de uma pausa de dois anos. Teve vários convites, de Portugal e do estrangeiro, mas nenhum suficientemente aliciante, quer do ponto de vista pessoal quer financeiro. Volta agora, e de novo ao comando do Gil Vicente, que ele mesmo subiu à I Liga em 1998/99. "O António Fiusa perguntou-me se eu queria ir treinar o Gil Vicente. Respondi-lhe logo: "vamos embora!""
Nota: esta entrevista foi feita antes de ser conhecida a decisão do tribunal, que poderá colocar o Gil Vicente de novo na I Liga.
Não me lembro de alguma vez lhe ter ligado e você se ter recusado a dar uma opinião.
Gosto de falar com os jornalistas. Aprendi muito ao longo deste tempo que estive como comentador. Fez-me ter um certo cuidado, sempre tentei dar uma opinião o mais correta e honesta possível. Houve sócios do Benfica que chegaram a dizer-me que devia ser mais duro, mas nunca gostei de denegrir as pessoas e sempre tentei ser igual para todos os clubes. Acima de tudo, tento defender o futebol.
A televisão está cheia de comentadores manifestamente deste ou daquele clube.
Pois está! E muitos não informam, apenas destroem o desporto. Mas encontrei jornalistas de grande nível, com quem aprendi muito.
O Álvaro estará sempre associado ao Benfica. Custa-lhe encontrar o Benfica como adversário?
Sou sócio do Benfica, tenho lugar de sócio-fundador no Estádio da Luz, mas o Benfica é e vai ser um adversário como outro qualquer: vou querer ganhar e festejar todos os golos, tal como farei quando defrontar a Académica, um clube que também me é muito especial.
Há quem ache isso uma falta de respeito...
Não acho. Se marco um golo pela minha equipa, não vou chorar.
Está a fazer lembrar-me o Rui Costa e o golo que ele marcou na Luz pela Fiorentina.
Cada um sente as coisas à sua maneira. Não é por não chorar que sou menos clubista do que ele. Fiz muitos sacrifícios pelo Benfica. Joguei muitas vezes infiltrado e cheio de dores, por exemplo. Éramos verdadeiros lutadores na minha altura.
Por falar em lutadores, é de verdadeiros lutadores que trata a nossa Seleção Nacional que vai ao Euro"2016?
Temos realmente bons jogadores e a federação está a dar todas as condições, penso que estamos no caminho certo, mas acho também que se está a criar muita expectativa. Vamos ver na prática se vai correr bem.
Houve muitas críticas à arbitragem durante esta época desportiva...
Sempre houve, mas, este ano, foi realmente de mais...
Agora que volta à pele de treinador, qual vai ser a sua postura nesse campo?
Há que ser equilibrado, vai haver boas e más arbitragens. E sabemos que os clubes pequenos são, por regra, mais prejudicados. Tenho amizade extrafutebol com muitos árbitros. Para mim será importante tentar não reagir a quente.
Não teve saudades de treinar uma equipa durante estes dois anos em que esteve parado?
Muitas. Era uma angústia estar sem trabalhar. Sentia muita falta. Felizmente gosto de ir ao ginásio e habituei-me a ir todos os dias, sempre dava para libertar um pouco essa angústia. Além do exercício, o ginásio tem o convívio que é saudável.
E sempre pode ver umas meninas com roupas justinhas...
Sim. Também serve para os velhotes irem limpar as vistas! [risos]
Mudando de assunto, tem um pavilhão desportivo com o seu nome, não é verdade?
Sim, em Lamego. Nasci em Cambres, mas fui estudar para o liceu de Lamego e um amigo convidou-me para participar num torneio de futebol de salão. Tiveram mais tarde a simpatia de me fazer essa homenagem. Os meus falecidos pais não queriam nada que eu jogasse, tinham medo que eu partisse uma perna [risos]. Aquilo foi uma guerra, mas felizmente um compadre acabou por os convencer a assinar o papel para ir jogar para os Craques Clube de Lamego. Fui logo campeão de juvenis.
Já era benfiquista nessa altura?
Eu gostava era de futebol e de ver os grandes jogadores. Eu e os meus amigos, todos miúdos, festejávamos os golos de todas as equipas. Ouvia os relatos na rádio do Benfica a jogar nas provas europeias. Depois serem meus colegas foi uma sensação... Não há palavras para isso!!
SAIBA QUE
Álvaro Magalhães considera mais fácil ser treinador de uma equipa como o Benfica do que do Gil Vicente. "O míster Trapattoni costumava dizer-me que o importante era ter grandes jogadores", comenta. O ex-técnico adjunto das águias sabe que, no clube de Barcelos, terá um orçamento reduzido, mas não tem medo disso. Já trabalhou com António Fiúsa e sabe ter a confiança deste, assim como do diretor desportivo Miguel Pimenta, para liderar um grupo de trabalho escolhido por si, com "homens que possam ter rendimento" e capazes de fazer voltar o clube ao principal escalão do futebol nacional. "Vou defender o Gil Vicente e a sua massa associativa até à morte", diz o treinador que está de regresso ao Norte, depois de ter liderado a Naval em 2012/13 e o Tondela em 2013/14.