CARA E COROA - Um artigo de opinião de Jorge Maia, diretor do jornal O JOGO
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Vítor Bruno ainda é um mistério, mas os três primeiros jogos da temporada já foram dando algumas pistas para perceber quem é o novo treinador do FC Porto. A amostra é curta para ser conclusiva e três vitórias, uma mais épica do que as outras, inquinam sempre qualquer análise sobre a personalidade de quem, inevitavelmente, terá de lidar com resultados mais indigestos. Ainda assim, há um contraste evidente com o caráter mais explosivo e explícito do antecessor, desde logo no relacionamento com os jogadores, que podia ser facilmente confundido com falta de exigência do técnico atual. Uma dúvida que Vítor Bruno fez questão de esclarecer no final do jogo com o Santa Clara quando tornou evidente a insatisfação com a forma como a equipa deixou que o “comodismo” entroncasse com o “facilitismo”, ou quando admitiu que, naquele jogo em particular, quem entrou a partir do banco “não acrescentou tanto como noutros jogos”.
Para se perceber o contraste, servem as palavras que dedicou a Galeno, deslocado para o lado esquerdo da defesa (onde, de resto, assinou uma exibição de mão-cheia): “Adoro quem me dá tudo, quem me responde em campo […] quando os jogadores me dão isso, vou com eles à morte”. Como se dizia no início, a amostra é curta e cem por cento vitoriosa, mas, mesmo sem dedos apontados e raspanetes em pleno relvado, a exigência está lá como antes. Sim, estava muito calor, a humidade não ajudava e o relvado era um obstáculo. E, mais a mais, o FC Porto estava a ganhar por 2-0 e o Santa Clara até estava reduzido a dez elementos. Uma desaceleração é, nas palavras de Vítor Bruno, “entendível” mas “não aceitável”.