DE CABEÇA - Leia a opinião de Vítor Santos.
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O drama de verão, na perspetiva dos treinadores, está a chegar ao fim. A partir do próximo dia 1, a questão passa por perceber quem tem mais e melhores meios no plantel para abordar esta admirável época nova, disputada em dois ciclos, com um intervalo nas grandes competições para a realização do Mundial.
Com a organização atual, dificilmente os clubes portugueses conseguirão repetir o feito do FC Porto de Mourinho, que venceu a Champions
A exposição dos clubes portugueses aos grandes compradores do futebol europeu, que tanto atormenta adeptos e técnicos, não é nova ou exclusiva, todos os clubes de ligas periféricas sofrem com a pujança financeira dos todo-poderosos ingleses, espanhóis, franceses e italianos, cujos cofres se enchem de milhões para gastar, época após época.
Confrontados com esta realidade, os clubes portugueses com ambição e currículo europeu limitam-se a competir por dinheiro. A verdade, dura e na fronteira dos valores do desporto, é esta. Até o mais otimista dos adeptos de FC Porto, Sporting ou Benfica tem dificuldades em acreditar na possibilidade de festejar a conquista da Liga dos Campeões, mas sabe que a simples presença na prova contribui para algum desafogo financeiro.
Será possível repetir êxitos como o título europeu do FC Porto de José Mourinho, em 2003/04? Com a organização atual, dificilmente acontecerá. É preciso investir muito para ter à disposição mão-de-obra em linha com Manchester City, Liverpool, PSG ou Real Madrid. É urgente estudar o modelo certo e aplicá-lo, como sugere o presidente do Sporting de Braga, António Salvador.
Mas desengane-se quem pensa que uma melhor e mais justa distribuição dos direitos televisivos e um novo formato, capaz de tornar as provas mais competitivas, resolve tudo. Claro que contribuirá para aproximar os pratos da balança, mas nunca para os deixar equilibrados. Provavelmente, a única solução passará pela abertura das sociedades desportivas dos maiores clubes nacionais ao capital estrangeiro, abdicando mesmo da maioria nas administrações, porque quem tem dinheiro também quer mandar. Fica por perceber se estamos preparados, se os adeptos estão prontos a aceitar esta via.
A alternativa será mantermo-nos fiéis ao modelo tradicional de gestão, que reserva aos sócios a última palavra. A História diz-nos que está cheio de méritos e mais em linha com os valores do desporto, mas é castrador, a não ser que a ideia de ser grande cá dentro e pequeno lá fora deixe os adeptos confortáveis. É compreensível e até louvável, mas depois da goleada europeia não atirem as culpas para o treinador.