SUPERIOR NORTE - Uma opinião de Vítor Santos
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Procurar inspiração numa figura cujo desaparecimento nos tocou particularmente é uma bela homenagem e também uma forma de luto menos convencional, mas adequada para ultrapassar a dor do momento. Enfrentar a morte num contexto de consternação coletiva pode ser difícil, tratando-se até de uma situação alvo de estudo, sobretudo após o aparecimento das redes sociais, porque passamos a ser confrontados a toda a hora com fotografias, vídeos e palavras que facilmente nos comovem.
Muitos terão ficado arrepiados nestes dias em que Portugal e o Mundo choram a morte de dois irmãos, jovens jogadores, Diogo Jota e André Silva. O primeiro, internacional português acabadinho de vencer a Liga das Nações e futebolista dos quadros de um dos maiores clubes do Mundo, o Liverpool, era uma estrela global. Qualquer miúdo se encanta com a velocidade, as fintas, as assistências e os golos daquele rapaz franzino de Gondomar, mais ainda ao perceberem que protagonizou uma carreira incrível, sempre em ascensão, de um clube modesto até ao gigante de Anfield Road, sem precisar de passar pelas linhas de produção das escolas de Sporting, Benfica ou F. C. Porto. Mas esta carreira pode ser apenas uma entre centenas de casos de sucesso no futebol.
O traço mais inspirador de Diogo Jota reside no facto de ter conquistado a fama pelo que fez dentro do campo. Sempre ligado às origens, não necessitou de mostrar penteados estonteantes, barcos maiores do que o Titanic ou relógios mais caros do que o Big Ben para ser famoso. A ostentação, permitam-me, nunca fez bem ninguém, embora tenhamos de a aceitar, porque a liberdade individual não é negociável. No quadro escuro deste adeus tão duro, pode ser bom refletirmos sobre a postura do profissional Diogo Jota. E aprender. Todos. Adultos, meninas e meninos aspirantes a desportistas, como o pequeno Ricardo, que na inocência dos seus cinco anos, confrontado com a notícia da morte do jogador do Liverpool, exclamou: “Oh, mas o Diogo Jota era tão meu amigo!”. Se não era, ainda pode ser, Ricardo. Terás tempo para perceber porquê.