Um artigo de opinião de Vítor Santos, diretor do Jornal de Notícias
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O compromisso de escrever antes de a bola rolar em dia de clássico estava a complicar-me as contas, mas de repente um alerta contou-me que Rodrigo Mora seria titular no encontro de Alvalade, e logo decidi que o jovem criativo portista deveria ser tema desta crónica. Francesco Farioli meteu o rapaz no onze e, ato contínuo, os sabichões que há semanas dizem na Comunicação Social que o treinador não gosta da joia portista meteram a viola no saco. Ou talvez não, porque é bem possível que ninguém os questione e, assim sendo, nem sequer terão de se retratar.
Desconheço as intenções da administração do FC Porto, mas gostaria muito de continuar a ver aquele encantador de plateias no futebol português. Por vários motivos. Desde logo porque está a ser seduzido pelos milhões do futebol saudita. Por mais que Cristiano Ronaldo, bem pago para o fazer, nos queira enganar, aquele campeonato é uma liga com quatro clubes, onde nenhum dos princípios do desporto é respeitado. As principais equipas não pagam milhões por terem muitos adeptos ou pedigree ganhador, acontece assim porque são patrocinadas pelo estado, que se aproveita do futebol para limpar a imagem de mau exemplo no que aos direitos humanos diz respeito. Com o talento que tem, Mora terá tempo para ganhar muito dinheiro em ligas minimamente decentes. Por outro lado, a saída precoce de um clube nem sempre dá bom resultado, como atesta o caso de Fábio Silva, que largou o clube da Invicta muito cedo, após meia dúzia de jogos na equipa principal. E João Félix, claro está, outro caso parecido. Por outro lado, é importante que as formações nacionais consigam segurar os maiores talentos, em vez de importarem jogadores a eito de qualidade inferior. E, bom, agora vou assistir ao clássico, sem bandeira de Sporting ou FC Porto, mas sempre a vibrar e a torcer para que Rodrigo Mora possa sair feliz do campo.
Na semana passada, lançado diante do Casa Pia na segunda parte, o menino de cabelo e pés de ouro deixou bem evidente a frustração, logo após o final do encontro. Ninguém com a idade do Mora merece ser infeliz. Portanto, força, rapaz. Mantém os pés na relva e não te juntes tão depressa aos que, com a reforma à vista, optam pelos petrodólares.