Aurélio Pereira deixa-nos aos 77 anos com um legado impressionante. Visionário, descobriu precocemente vários talentos que fizeram história no futebol nacional, como um menino chamado Ronaldo.
Corpo do artigo
As manifestações de luto e pesar pela morte de Aurélio Pereira atestam bem a importância do “Senhor formação” no desporto-rei em Portugal. O FC Porto não seguiu a mesma via pouco diplomática dos rivais de Lisboa aquando da partida de Pinto da Costa e publicou uma nota de condolências à família e amigos, sem fazer referência aos leões, enquanto o Benfica incluiu o vizinho no abraço coletivo que apresentou pela partida de um nome que ganhou direito a figurar na história do futebol nacional.
Aurélio Pereira não era um olheiro qualquer. No mercado atual, diríamos que o seu olho clínico para a deteção de talentos valeria uma proposta de qualquer colosso internacional, porque foi excecional na tarefa que abraçou em 1988, altura em que começou a dirigir o então criado Departamento de Recrutamento e Formação. Teve a ideia de escrever uma carta aos sócios a pedir que percorressem todos os campos que pudessem no sentido de identificarem jovens talentos potencialmente interessantes para o clube. E, ainda mais difícil, convencer alguns, mesmo com familiares adeptos de cores rivais, a aceitarem a ideia de jogar no Sporting. Foi quase sempre bem-sucedido nessa missão. Descobriu meninos a driblar nos parques ou nas escolas, como Futre, Figo, Dani, Quaresma ou Nani. E também teve papel crucial em viragens profundas na vida de aspirantes a futebolistas, com Cristiano Ronaldo a tornar-se o expoente máximo do caráter diferenciador em termos humanos e profissionais de Aurélio Pereira.
Parte um caçador de talentos, mas acima de tudo um homem bom. Que descanse em paz.