A opção por Roberto Martínez para selecionador nacional é aceitável e não belisca os treinadores portugueses. Face à necessidade de gerir egos maiores do que a Torre dos Clérigos, o melhor mesmo é alargar os horizontes.
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Roberto Martínez é o terceiro treinador estrangeiro a liderar a Seleção Nacional. Depois dos brasileiros Otto Glória e Luiz Felipe Scolari, a Federação Portuguesa de Futebol aposta agora num espanhol, porque, sejamos claros, não encontrou um treinador português com perfil para, no imediato, conduzir a equipa das Quinas.
Uma análise mais populista apontaria imediatamente ao sucesso global dos técnicos portugueses, mas não creio que esta evidência fique beliscada com a opção de Fernando Gomes. No contexto atual e pelo que se viu no Catar, o melhor mesmo é alargar horizontes, porque José Mourinho seria a exceção capaz de subalternizar as guerras escondidas entre os egos de alguns jogadores.
As primeiras declarações de Martínez como selecionador português confirmam que está bem acima de tudo isso. Desde logo porque não sentiu necessidade de dizer que Cristiano Ronaldo é o melhor jogador deste e de outros mundos, colocando-o no mesmo patamar de todos os jogadores que estiveram no Mundial. Aliás, a primeira impressão, num momento em que apenas pode ser avaliado pelo discurso, é que o espanhol merece aprovação, procurando usar uma mensagem objetiva, sem fugir às escassas questões que lhe foram colocadas.
Na mesma conferência de Imprensa, onde também esteve o presidente da Federação, ficaram, no entanto, outras perguntas por responder. Depois de um mês em silêncio, os responsáveis federativos optaram por não dar oportunidade aos jornais desportivos de colocar questões durante o evento. O que não me parece aceitável, sobretudo porque não há na Comunicação Social quem produza informação mais especializada no sentido de interpretar e esclarecer os milhares de adeptos da Seleção e do futebol em geral.
Em termos de novidade, ficamos apenas a saber, em função das palavras de Fernando Gomes, que Portugal ficou aquém das expectativas, uma vez que "exige", e bem, ao novo selecionador, estar nas decisões, chegando, pelo menos, às meias-finais das grandes competições. É pouco, sobretudo após um mês de ausência total de esclarecimentos. O silêncio, como sabemos, é o melhor amigo da especulação.