DE CABEÇA - Uma opinião de Vítor Santos
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Portugal tem um conjunto de jogadores cheio de qualidade, condição fundamental para lutar por títulos, o que não tem acontecido e agora se torna mais visível, porque depois de ter falhado a presença na final-four da Liga das Nações, a Seleção terminou a participação no Campeonato do Mundo nos quartos de final, afastada por Marrocos, quando parecia estar desbravado o caminho para a presença, pelo menos, nas meias-finais.
O próximo selecionador estará obrigado a elevar o nível futebolístico da equipa das Quinas e a ganhar
Estes dois dados - mão-de-obra valiosa e ausência de bons resultados no passado recente - indicariam uma conjuntura mais favorável para o próximo selecionador, se não estivéssemos a falar de suceder a Fernando Santos.
O percurso do engenheiro do penta portista no comando da Seleção é - por muito que custe aos "haters" que o escolhem como alvo fácil - ímpar, e no melhor sentido, uma vez que liderou as conquistas do Europeu'2016 e da edição inaugural da Liga das Nações, em 2019, os únicos títulos do País em seleções A. Como a Federação Portuguesa de Futebol identificou que é necessário trocar de selecionador a dois anos do fim do contrato, é porque acredita na possibilidade de fazer melhor com outro treinador, chegando, no mínimo, aos momentos das provas em que tudo se decide.
A tarefa do novo técnico será, por isso, de grande responsabilidade em termos desportivos, porque a comparação com o anterior será inevitável, sempre que as coisas não correrem bem. A maior crítica apontada a Fernando Santos é a fraca qualidade de jogo da Seleção. Se pensarmos bem, as atuações esteticamente criticáveis estiveram lá desde o primeiro dia. Em 2016, antes de um país inteiro festejar como nunca havia feito, Portugal nem um jogo conseguiu vencer na fase de grupos, jogando pouco e mal.
À medida que o balão foi enchendo, as exibições não melhoraram muito, mas foram atiradas para segundo plano. É natural. Os adeptos do futebol são assim: primeiro vencer, depois jogar bem. Perder, mesmo jogando bem, é um tormento para qualquer treinador. Fernando Santos já foi herói sem conseguir elevar o nível de jogo. Saiu agora, como vilão, pelo mesmo motivo. Ou será que não é assim? De qualquer forma, o próximo selecionador estará, portanto, obrigado a elevar o nível futebolístico da equipa das Quinas e a ganhar. Importa então identificar o perfil. Já se percebeu que José Mourinho está no topo das prioridades. Ganhou tudo ao nível de clubes, mas em termos de filosofia de jogo, se pensarmos bem, nem difere assim tanto de Fernando Santos. Em Inglaterra, foi anos a fio acusado de ser resultadista.
O que Mourinho tem de mais distintivo, parece-me, é uma capacidade à prova de bala para liderar um grupo cheio de estrelas, gerindo como poucos os egos do balneário. Aparecer na "pole position" por causa deste fator é aceitável, mas torna evidente que não foi a falta de qualidade do futebol apresentado que determinou a saída de Fernando Santos.