DE CABEÇA - Um artigo de opinião de Vítor Santos.
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Quem achava que o VAR seria uma via aberta para eliminar as polémicas na arbitragem enganou-se.
Estava na cara que não seria assim, mais não fosse porque há um país chamado Portugal onde os três resultados possíveis no futebol - vitória, empate e derrota - são diferentes.
Por cá, há vitória, empate e culpa do árbitro. Para sermos justos, no entanto, importa esclarecer os mais desatentos que as críticas ao trabalho dos juízes existem em todo lado. Ainda ontem, num dérbi disputado na melhor liga do Mundo, o Manchester City atribui responsabilidade direta ao árbitro por ter perdido, depois de ter sido validado um golo muito controverso a Bruno Fernandes. O Manchester United empatou por intermédio do português e logo a seguir a reviravolta foi consumada.
Os protagonistas falaram sobre o caso, a jogada foi analisada até à exaustão, mas ninguém ousa colocar em causa a seriedade do homem que conduziu a partida. Todos, no edifício do futebol britânico, conhecem, aparentemente, duas coisas: que o erro faz parte da condição humana e que, portanto, acontece sem intenção, admitindo-se, como fez Guardiola, o treinador vencido, que o ambiente pode condicionar na hora de ajuizar, até porque o mesmo acontece com os jogadores, também se enganam, só que não têm a tal segunda oportunidade que o VAR concede. Hoje ainda se falará do lance em Inglaterra, mas o assunto vai morrer naturalmente. Por que razão, então, não acontece o mesmo em Portugal, onde se passam semanas a falar da mesma coisa? O problema reside, provavelmente, na intensidade das críticas dos clubes, nos momentos em que são feitas e num histórico de trapalhadas envolvendo árbitros e dirigentes, com investigações judiciais à mistura que raras vezes se traduzem em indiciações e menos ainda em condenações. Se os dirigentes quiserem livrar-se disto, só têm uma alternativa: acreditar nos árbitros. Mas isso nunca será conseguido de um dia para o outro. O primeiro passo deverá ser no sentido de eliminar os maus e continuar a formar, sempre com objetivo de melhorar a qualidade dos protagonistas do setor.
A Justiça também poderá dar um bom contributo, assim ajude a esclarecer o que realmente se passou nos casos que estão sob investigação. Punir os prevaricadores é a melhor maneira de demover os que se deixam levar pela tentação de prevaricar. Por outro lado, mesmo que um dia nos possamos orgulhar de ter os melhores árbitros do Mundo - sonhar não custa -, de nada valerá se os responsáveis dos clubes teimarem em justificar as derrotas com as arbitragens. O esforço terá de ser coletivo e em simultâneo, enquanto remar cada um para seu lado a suspeição continuará a ser a nuvem negra do futebol português.