A receção de hoje ao Portimonense ganhou contornos de jogo grande para o Benfica, que precisa de vencer para inverter os sinais de desaceleração deixados no Minho.
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O Benfica encerrou mal o novo ano, depois de ter avançado todos os obstáculos desportivos na primeira fase da época.
Passou os testes possíveis e imaginários, do algodão, do carbono-14, da crítica nacional e internacional, ao ponto de qualquer voz de desconfiança, ou no sentido de esperar mais um bocadinho para ver, correr o risco de ser apedrejada pelos fantasmas com conta nas redes sociais.
Como um pontinho de ferrugem que se multiplica num abrir e fechar de olhos, o Campeonato do Mundo tudo mudou, plantando problemas na Luz, visíveis dentro do relvado, com duas deslocações amargas ao Minho, e, fora dele, através de uma novela argentina em jeito de avalanche, cujo embate final ainda não é conhecido.
No imediato, parece capaz de abalar a estabilidade de um grupo que vendia saúde antes do congelamento do campeonato. Algum dia o Benfica tinha de perder, é certo, mas o resultado de Braga reflete, de alguma forma, sinais de abalo mental e técnico. No seu primeiro romance, "A brincadeira", Milan Kundera conta-nos como um ato insignificante, uma piada num bilhete, pode patrocinar um processo destrutivo sem retorno, precipitando uma série de acontecimentos que sustentam a narrativa dramática.
Não existe no súbito foco de instabilidade benfiquista drama nenhum, trata-se de futebol. Mas depois de sobrevoar com êxito estádios como o do PSG, da Juventus e do FC Porto, Roger Schmidt tem, provavelmente, o teste mais complicado desde que chegou à Luz. O alemão precisa de criar uma espécie de imunidade de grupo à questão do mercado, manter o caso de Enzo Fernández fora do balneário e ganhar hoje ao Portimonense e, se possível, com uma exibição positiva, porque o contrário já não poderá ser encarado como ato isolado ou uma pequena areia na engrenagem, mas uma reação em cadeia de contornos imprevisíveis.