Em menos de uma década, Portugal fez do improvável uma rotina dourada, como se ser campeão da Europa e ainda vencer a Liga das Nações, por duas vezes, fosse uma banalidade para qualquer seleção
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Há a canção de Amália Rodrigues que nos embala há tanto tempo que achamos intemporal. Diz-nos a letra que “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. E numa frase tão portuguesa se pode também contar esta vitória de Portugal, concretizada na conquista da segunda Liga das Nações, terceiro troféu da Seleção Nacional desde 2016. Desde sempre. Sim, mas tudo isto existe.
Sim, existe esta ideia tão lusitana de que apenas nós temos uma geração de ouro destinada aos mais altos desígnios na história do futebol. Como se douradas não fossem tantas ou mais gerações espanholas, francesas, italianas, inglesas, brasileiras, argentinas…
Tudo isto é triste? Sim, porque, movidos por uma exigência quase só aplicada ao desporto — ao futebol em particular —, Roberto Martínez foi para a Alemanha como um selecionador nacional a prazo. Porque não lhe bastava alcançar fases finais, tinha de ganhar torneios, como se isso fosse o habitual.
Sim, mas tudo isto é fado? Sim, mas pode ser um fado diferente. Pode ser de alegria, já que, da mesma forma que se vence a Liga das Nações, frente a uma poderosa Espanha, na marcação das grandes penalidades, também se perde com a França nos quartos de final de um Europeu. Sim, tudo isto é fado, mas nem sempre tudo isto tem de ser triste. Até porque só podemos sentir alegria ao ver uma geração – ou mais – liderada por Cristiano Ronaldo alcançar o que durante tanto tempo julgamos inimaginável: Portugal ser campeão da Europa e vencer a Liga das Nações por duas vezes em menos de uma década.