JOGO FINAL - Uma opinião de Vítor Santos
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Quem é ou foi desportista entende bem a pancada escusada no adversário e o vernáculo desesperado do treinador. É assim, não há volta a dar.
Aplaudam e critiquem, porque essa conquista de Abril ninguém vai engavetar. Mas a guerra a sério já é um tormento, não nos aborreçam com conflitos fúteis, quando a época ainda vai no adro
Tudo isto é admissível, ao ponto de não fazer sentido ser de outra maneira. O resto são questões de personalidade. E o futebol, num país como o nosso, de vista estreita em termos de cultura desportiva, desperta amores e ódios tão passageiros como os da adolescência. Dois amigos podem estar numa discussão incandescente num minuto e aos abraços, sem ressentimentos, ainda antes de o ponteiro mais rápido ter dado uma volta inteira ao relógio.
Com jogadores e treinadores, em campo, passa-se o mesmo. Numa época nem com repelente se aproximam, na campanha seguinte trocam de clube e unem-se em compromissos para a vida. Como nem o céu, tão bonito, consegue escapar à poluição, também o futebol tem as suas nuvens negras.
Aqueles milhares de adeptos nas bancadas e os milhões de sofredores em casa não merecem ser castigados com as tentativas - por vezes, eficazes - de criação de realidades alternativas, geradoras de sururus bem mais vergonhosos do que a controvérsia de um fora de jogo mal assinalado. Os jogadores existem para jogar, os treinadores para treinar e os dirigentes para dirigir.
Estes últimos devem, na missão que lhes é confiada pelos sócios, ter em conta a responsabilidade social de que tantas vezes se socorrem para reclamar, com razão, mais apoio do Estado. Aplaudam e critiquem, porque essa conquista de Abril ninguém vai engavetar. Mas a guerra a sério já é um tormento, não nos aborreçam com conflitos fúteis, sobretudo quando a época ainda vai no adro.