Uma opinião de Carlos Flórido, editor da secção modalidades de O JOGO
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Bastou Fu Yu fazer um grande resultado para os racistas portugueses, cada vez mais atrevidos, entrarem as pés juntos nas redes sociais. Nenhum sabe que a madeirense até se poderia inscrever como Fu Fernandes, mas isso pouco lhes importa, porque eles vão pelas aparências. Houve até quem, indo mais fundo na descoberta do ténis de mesa, denunciasse que os gritos de vitória da gondomarense Jieni Shao são em chinês - não conheço essa app tradutora de gritos, mas deve ser falha minha.
O racismo à portuguesa tem uma característica peculiar: critica os imigrantes quando eles ganham
O ataque às nossas jogadoras é só um primeiro passo nos tiques nacionalistas que surgem a cada quatro anos e a próxima dose chegará quando Pedro Pichardo for ao pódio, pois o racismo à portuguesa tem uma característica peculiar: criticar os atletas imigrantes quando eles ganham. Será que essa gente que vê o mundo de uma só cor acha que lhes estão a roubar o lugar nos Jogos? Não sei o que os motiva, mas sei algo mais importante: Portugal nunca “comprou” atletas, apenas naturaliza os que escolhem o nosso país, e nos últimos anos até travou alguns com burocracias incompreensíveis.
A nossa Missão em Paris seria maior em número e qualidade se não tivéssemos deixado vários imigrantes em terra. E em relação aos nossos naturalizados, conhecendo alguns, posso dizer mais: conseguem ser mais portugueses e fazer mais pelo país que escolheram - quase todos tinham outras alternativas, é bom referir - do que essas bestas quadradas que se limitaram a nascer por cá e têm a coragem toda reservada para o teclado de um qualquer telemóvel.