DE CABEÇA - Opinião de Vítor Santos
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A época 2023/24 ainda gatinha e a discussão já segue acesa, como se estivéssemos em final de campanha e não no arranque. Estamos em Portugal, onde a paixão pelos clubes é cegueira que arde sem se ver, pelo que ninguém ficará admirado por o caldo estar próximo do ponto de ebulição. Mas há coisas que merecem ser discutidas e avaliadas, quanto mais depressa melhor, para não sobrarem equívocos ou dúvidas numa fase tão prematura da temporada.
Receio de perder o controlo do jogo levou o árbitro a mostrar cartões em lances em que até assinalar falta pareceu um exagero
O trabalho de Luís Godinho, no capítulo disciplinar, no jogo da Supertaça, tem de servir de farol para o que aí vem, como exemplo a seguir ou a evitar. Parece-me que a resposta só pode ser direcionada para a segunda opção. É impossível haver futebol a sério se todos os árbitros utilizarem o mesmo critério na amostragem dos cartões amarelos. Pior ainda, após o intervalo, o juiz passou a utilizar outro. Na realidade, bem mais adequado a uma modalidade em que o contacto abunda e não há cesto... O problema é que todos adivinhavam que isso iria acontecer, ou seria impossível levar o encontro até ao fim, por falta de jogadores.
Compete ao Conselho de Arbitragem identificar e, até, explicar, por que razão o árbitro resolveu conduzir a partida daquela maneira, com a agravante de o ter feito apenas nos primeiros 45 minutos. Vou arriscar uma explicação, que me parece mais ou menos à vista de todos: medo. Luís Godinho não teve coragem para deixar jogar, porque se tratava de um Benfica-FC Porto com direito ao primeiro troféu da época para o vencedor. O receio de perder o controlo do jogo levou o árbitro a sacar do cartão amarelo em lances que não o justificavam. Num ou outro, até assinalar falta foi exagero, isto num duelo disputado de forma leal pelos jogadores, sem grandes anormalidades, até à rábula protagonizada por Sérgio Conceição, já na ponta final.
Depois de um trabalho destes, seguido por um país inteiro em canal aberto, fica muito difícil ter pelos árbitros o respeito que eles merecem. Os jogadores não compreendem, os adeptos menos ainda. Esperemos que tenha sido um dia mau. Mas desconfio que foi pensado. Foi medo. Se estiver certo, houve evidente falta de coragem, um atributo fundamental num árbitro. Se Luís Godinho não a tem, devia dar a vez a outro assim que for possível.