PRESSÃO ALTA - Um artigo de opinião de Alcides Freire, diretor adjunto do jornal O JOGO
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Da criação de um Ministério da Cultura, Juventude e Desporto não virá grande mal ao mundo — e muito menos a Portugal. Mas a desilusão, a preocupação e até o horror com que alguns agentes culturais reagiram no dia da tomada de posse do Governo quase pareceram o anúncio de um apocalipse cultural: adeus teatro, adeus ópera, adeus noites de bailado. Pelo meio, quase ninguém reparou na boa notícia: o Desporto passou a ter, finalmente, um ministério.
Não, juntar a cultura ao desporto e à juventude não significa a morte de qualquer uma dessas áreas. Significa, tão só, uma ministra e vários secretários de Estado atentos a áreas importantes para o presente e futuro de um país moderno e europeu. E que, em muitas situações, podem funcionar em conjunto. Não é um retrocesso, porque retrocesso foram todos os governos — como o primeiro de Luís Montenegro, para recordar o mais recente — que nunca viram no Desporto importância suficiente para merecer um ministério. Em mais de 50 anos de Democracia, esta será a terceira vez que o Desporto merece sentar-se no Conselho de Ministros, porque antes só entre 2000 e 2002, no executivo liderado por António Guterres, e em 2004, num curtíssimo Governo de Pedro Santana Lopes. Há opiniões para todos os gostos, como há opções diferentes em vários países da União Europeia: em Espanha, Áustria e Dinamarca, Cultura e Desporto convivem no mesmo gabinete; na Grécia e Suécia, não.
Importante — e pode estar aqui o erro de muitas análises — é que à ministra Margarida Balseiro Lopes não perguntemos sobre o ambiente mais ou menos tenso que se vive no futebol, mas que questionemos sobre o que pretende fazer para contrariar os dados do Eurobarómetro de Desporto e Atividade Física, que em 2024 indicaram que 73% dos portugueses não praticam atividade física ou desportiva. Ou como pretende atuar para contrariar um preocupante dado anunciado pelo INE no ano passado: Portugal investe no Desporto cerca de 40€ por habitante. A média na UE é de 113€/habitante. Se queremos mais e melhores atletas, só alargando a base — e não ficando à espera de um ou outro milagre que brilhe no topo da pirâmide do alto rendimento. Sim, o Desporto sempre merece ter um ministério, e estar sozinho ou acompanhado não é um problema. Nem para a Cultura e para a Juventude.