Um artigo de opinião de Carlos Flórido, editor do jornal O JOGO
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Os atletas olímpicos jogam quatro anos de trabalho num só momento, sendo por isso obrigados a lidar com uma pressão que poucos seres humanos sentem ao longo de uma vida inteira. Há estudos sobre o que vai na cabeça destes atletas excecionais, assim como existem atualmente, para a maioria deles, apoios de psicólogos. O princípio básico de uma mente olímpica é simples: o stress é uma motivação. “Energia negativa é energia desperdiçada. Os melhores do mundo não são os melhores porque ganham todos os pontos, são-no porque sabem que um dia vão perder e aprenderam a lidar com isso”, disse Roger Federer num impressionante discurso no Colégio de Dartmouth, em junho, explicando que numa carreira de 1526 encontros ganhou 80% deles, mas apenas 54% dos pontos. “Quando estás a jogar um ponto, isso é a coisa mais importante do mundo. Mas quando o acabas e fica para trás, ficou para trás. Esta mentalidade é crucial”, completou.
O exemplo do tenista é apenas um. Num estudo feito com os nadadores britânicos, concluiu-se que viam o stress como algo que os ajudava, por acharem que a pressão é um desafio. Nos últimos anos, a preparação mental começa nos treinos, com os técnicos a introduzirem ou desafios stressantes ou distrações, pois um olímpico também tem de lidar com multidões mais ruidosas do que o habitual. Os portugueses, convém frisar, já são preparados ao mesmo nível. Naturalmente, há quem sinta dificuldades, em especial numa era em que têm o apitar as notificações das redes sociais, aumentando-lhes a responsabilidade, seja pelos incentivos ou pelas críticas. Porque se um olímpico tem uma mente especial, quem está de fora tem, infelizmente, dificuldade em pensar da mesma forma.