A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Preocupa-me ver sair do clube um benfiquista com quase 50 anos de sócio, desapegado do poder a ponto de ter entregue ao presidente - mais nenhum vice o fez - uma carta de demissão com data em branco logo numa das primeiras reuniões de Direção; um gestor, economicamente independente, que trabalhava “pro bono” e a tempo inteiro no Benfica; alguém apostado em combater o despesismo e empenhado na implementação de boas práticas no clube e na SAD, algo que a auditoria forense mostrou serem tão necessárias como o pão é para a boca de todos nós; e, sendo dos poucos que não transitou da equipa dirigente e de gestão de Luís Filipe Vieira, estava liberto de ligações tóxicas ao passado recente. Preocupa-me, em suma, ver sair do clube homens com o perfil de Luís Mendes.
2 - A saída do ex-número dois de Rui Costa, a que acresce tudo o que foi revelado sobre os motivos que o levaram a bater com a porta, é mais um sinal de que as coisas não estão bem no clube e na SAD. Porém, por mais paradoxal que possa parecer, a saída de Luís Mendes pode (e deve) ser uma oportunidade - a última? - para Rui Costa fazer as profundas alterações que se impõem no clube e na SAD. Aqui chegados, ou o presidente faz a renovação que há muito se impõe, ou mantém tudo na mesma e coloca nas mãos de Schmidt o futuro desta equipa diretiva.
3 - Não me lembro de nenhuma grande organização que tenha colocado na praça pública, linha por linha, palavra por palavra, o relatório de uma auditoria forense feita sobre si mesma por sua encomenda. Divulgá-la, precisamente na véspera de uma assembleia geral, pode ser entendido como uma forma de tentar agradar a todos aqueles que vinham reivindicando a sua prometida publicação. Todavia, por mais que a conclusão seja de que não existe matéria criminal nos 51 contratos investigados e que a Benfica SAD não foi lesada nos negócios associados aos mesmos, a divulgação integral do trabalho da Ernst & Young só veio ajudar a criar mais ruído à volta do clube. A quem é que isto serve?
4 - No caso “Saco Azul”, que ainda nem sequer foi a julgamento, não há, como nunca houve, qualquer acusação à SAD relacionada com batota desportiva - aquela que, de longe, mais me preocuparia e envergonharia. A confirmarem-se em julgamento as teses do Ministério Público, e sabemos como até hoje as teses dessa gente nunca vingaram, e foram até, em vários casos, totalmente desconsideradas, o Benfica foi a parte lesada da brincadeira. É bom que isto fique bem claro, especialmente para os nossos adversários, que falam de “processos” como se todos tivessem origem nas mesmas práticas. Já agora, porque não investiga o Ministério Público os contratos de todos os clubes?
5 - À hora a que envio esta crónica, ainda para mais encontrando-me no estrangeiro, pouco posso adiantar de comentários sobre a assembleia geral. Sei, contudo, pelas mensagens que me foram chegando, que não terá corrido bem. É mais um aviso para Rui Costa ponderar e levar em devida conta. (Quem foram os traidores que alimentaram a CMTV com imagens?)