DE CABEÇA - Opinião de Vítor Santos
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Por muito que custe aos "velhos do Restelo", cuja opinião merece tanto respeito como qualquer outra, ter Portugal entre os organizadores do Campeonato do Mundo de 2030 é uma oportunidade incrível e única, embora, e nisso estamos de acordo, o impacto positivo resultante de um evento desta dimensão está longe de ser aquilo que o país precisa. Aparentemente, no entanto, sobeja quem entenda que deve ser o futebol a resolver as assimetrias económicas e sociais.
É uma vitória do futebol. Não adianta atirar para a mesa o trunfo esfarrapado dos milhões que se gastaram com o Euro"2004
A decisão da FIFA é uma vitória para o futebol português. Não adianta atirar para a mesa da discussão o trunfo esfarrapado dos milhões que se gastaram com o Euro"2004. O contexto é diferente. A competição estará fixada nas cidades de Lisboa e Porto, onde já existem estádios com capacidade para receber jogos de grandes torneios. Eventuais melhoramentos, se necessários, serão aproveitados no futuro, uma vez que estes anfiteatros pertencem a Benfica, FC Porto e Sporting, os clubes com mais adeptos.
O Mundial 2030, coorganizado com Espanha e Marrocos, tem como vantagem mais evidente a afirmação de Portugal no planeta do futebol. Resume-se a isso, praticamente, porque o tempo de projetar internacionalmente o país no sentido de atrair turistas está ultrapassado. O turismo continuará a ser uma das atividades mais sólidas e lucrativas enquanto houver sol e mar, pelo que recolher benefício só aconteceria se a competição fosse disputada no cada vez mais deserto e esquecido Interior.
Por outro lado, o mundo já reconhece a nossa capacidade de organizar grandes eventos. Claro que não é possível embarcar em tamanha empreitada sem o apoio do Estado. A logística não será barata e até tenho dúvidas - olhando, por exemplo, para o que se passa nos hospitais e com as forças de segurança -, se estaríamos em condições de dar uma resposta eficaz neste momento. Mas faltam sete anos, esperemos chegar a 2030 com boa parte destes problemas resolvidos. Até por isso, é quase anedótica a colagem dos políticos a esta "vitória". Foi um dia importante para o futebol português, para quem no seio da Federação Portuguesa de Futebol sonhou, executou e teve sucesso, ao ver o mérito da candidatura conjunta reconhecido pela FIFA.
Sublinho, por isso, que se trata, essencialmente, de mais um momento de afirmação de uma atividade que não precisou de subsídios para se internacionalizar. O futebol português é um forte agente de promoção do país além-fronteiras. Esperemos que este esforço também tenha como consequência uma maior influência em todos corredores da FIFA e da UEFA: desviando-me do tema, ninguém quer ser beneficiado, mas espanta como, sem ponta de vergonha, os nossos clubes são, sistematicamente, prejudicados nas provas internacionais quando defrontam equipas espanholas, italianas ou inglesas.