Imigrante bem integrado, entretanto português com serviços relevantes prestados ao país, Pepe emerge como bom argumento para contrariar a retórica xenófoba.
Corpo do artigo
A renovação de Pepe com o FC Porto, assinada no domingo, tem muito 25 de Abril. Os valores da Revolução dos Cravos adaptam-se ao longo dos tempos, evoluindo a partir da liberdade, o seu pilar maior. As necessidades da sociedade portuguesa não são as mesmas de há 49 anos - embora exigências tão básicas como a igualdade entre homens e mulheres ainda nos parecem distantes de estarem cumpridas -, tornando-se fundamental acompanhar a evolução.
Quando chegou a Portugal, Pepe era um jovem imigrante brasileiro que cruzou o Atlântico movido por um sonho. Que o trabalho e o talento tornaram realidade. O capitão portista é hoje um português de pleno direito, um extraordinário exemplo de superação, sublinhado ao serviço do clube e da Seleção Nacional.
Vivemos num tempo de intolerância crescente em relação aos imigrantes. Atordoada pela surdina das redes sociais, onde prolifera o discurso de ódio, sem lei nem rosto, uma parte do país esqueceu-se depressa dos milhares de portugueses que se aventuraram a salto para França durante a ditadura.
É neste contexto que histórias de vida como a de Pepe ganham relevância. Contra os defensores das seleções com jogadores "bacteriologicamente puros" marchar, marchar, apetece dizer. Mais do que uma inspiração para quem chega, o exemplo do jogador dos dragões - há muitos, claro está, em todas as atividades -, encerra em si mesmo um bom argumento para destruir a retórica xenófoba que grassa em toda a Europa e à qual Portugal parece cada vez menos imune.