Passar quatro anos a manter a motivação acima das dores não está ao alcance de muitos
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Quem conhece Patrícia Sampaio destaca-lhe a simpatia, misturada com alguma timidez; quem a vê num tapete de judo fica intimidado com a aparência de uma verdadeira fera. A judoca de Tomar, que teve a sequência dos muitos êxitos enquanto júnior adiada até ontem por um calvário de lesões, é um dos maiores exemplos de resiliência que o nosso país pode encontrar. Passar mais de quatro anos a fazer das fraquezas forças, ter sempre a motivação acima das dores é algo ao alcance de muito poucos. Assim como, face ao que já passou, não terá sido fácil manter aquela agressividade que a caracteriza, com um judo de ataque constante que a leva a resolver a maioria dos combates antes dos quatro minutos, sem esperar pelo acumular de castigos nos prolongamentos que tem resolvido inúmeros combates em Paris e transformado a modalidade em algo enfadonho e difícil de entender.
A atleta da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais - a fidelidade ao pequeno clube de Tomar e a ligação profunda ao irmão-treinador, Igor, são também reveladoras do seu caráter -, um “animal de ataque”, como a catalogam os que melhor a conhecem em ação, manteve o judo português no pódio olímpico pela terceira vez consecutiva e pode, aos 25 anos, assumir-se como um dos rostos da nova geração numa Seleção Nacional que não terá os seus trintões muito mais tempo - Telma Monteiro (38 anos), Rochele Nunes (35), Bárbara Timo (33) e Jorge Fonseca (31). Se Patrícia for a nova Telma, a “liderança” estará bem entregue.