PRESSÃO ALTA - Um artigo de opinião de Alcides Freire, diretor adjunto do jornal O JOGO
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A Taça de Portugal pode ser paixão, mas o Benfica-Sporting desta tarde de domingo é também um exercício de matemática pura. A conta é fácil de fazer: os leões podem alcançar as águias no número de troféus conquistados nas últimas dez épocas, tendo, para isso, de ser os últimos a subir a escadaria do Jamor ao final da tarde deste domingo. Se tal acontecer, Frederico Varandas verá o seu clube conquistar o 11.º título nesta década, o mesmo que os encarnados — presididos por Rui Costa desde 2021 — totalizam em igual período. Se as contas forem reduzidas ao tempo em que Costa e Varandas coincidem na liderança dos rivais de Lisboa, verifica-se uma igualdade a três.
O eterno duelo lisboeta, tantas vezes carregado de paixão cega, encontra aqui um raro momento de equilíbrio objetivo. Tantas vezes unidos noutros momentos da vida do futebol português, Frederico Varandas e Rui Costa procuram hoje marcar uma posição. Vem a talho de foice que é o FC Porto quem lidera as contas que se fazem desde 2015/16, com 12 troféus, 11 dos quais conquistados por Sérgio Conceição. Pode, portanto, ser alcançado pelo Benfica. Não colocando a matemática de parte, estes não deixam de ser factos que colidem com narrativas que apontam para o domínio de uns sobre os outros. E essa é talvez a maior ironia destas contas. Não há domínio, há momentos — como esta década que começou com um Benfica que parecia imparável.
Por isso, voltando à festa do futebol, este Benfica-Sporting é muito mais do que um jogo. Será, hoje, uma disputa por uma frase numa folha de um livro de história. A Taça nunca deixará de valer apenas um troféu, mas esta final vale mais: vale estatuto, também narrativa, e ainda a ilusão de que o futebol pode, por uma tarde, ser o espelho fiel da verdade. No fim, haverá festa. Mas também haverá contas a ajustar. Porque, por mais que o coração bata forte, este duelo final também se joga com números — números que darão origem a outros argumentos. Até por isso, um jogo com tanto em jogo — este domingo, como no passado — teima em merecer um palco mais digno. Não é ser contra o Jamor, mas ser contra este Jamor. A Taça é a festa do futebol, mas não é apenas um piquenique de adeptos da bola.