A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Consigo compreender - embora não deseje, muito menos festeje - que o Benfica tenha que realizar pontualmente uma venda milionária de um dos nossos melhores jogadores. Já não consigo compreender que o Benfica pouco ou nada faça para alterar o modelo económico que depende, e depende desesperadamente, da venda anual de pelo menos um dos nossos melhores jogadores. Enquanto isso, os custos, em vez de serem “dacronianamente” combatidos e abatidos, continuam a crescer época após época. Até quando?
2 - Já alinhei, mas deixei-me disso há muito tempo, naquela lenga-lenga de que “não podemos cortar as pernas aos jogadores”. Por duas razões: a primeira, porque ninguém apontou uma pistola à sua cabeça, ou dos seus pais, ou dos seus empresários, na hora em que assinaram os contratos; a segunda, porque quando a coisa corre mal e os jogadores não vingam, o clube não pode pedir que não lhe “cortem as pernas”, antes tem que gramar com os putativos craques até ao fim dos seus contratos.
3 - Com a mesma facilidade com que vendem os nossos melhores jogadores, muito gostaria de ver os empresários, os agentes e os experts da nossa estrutura venderem igualmente bem, ou ao menos por valores que permitam recuperar os investimentos, os “barretes” que por culpa deles precisamos despachar. Falta pouco mais de um mês para o fecho desta janela de mercado. Vamos a isso?
4 - Nada contra o Benfica receber por empréstimo grandes jogadores, daqueles com um curriculum tal que nos enchem de orgulho e expectativas quando os imaginamos de Manto Sagrado vestido. Tudo contra sermos o porto seguro para que jogadores desses venham recuperar de complicadas lesões no bem-bom do nosso clima, do nosso peixinho grelhado, da nossa segurança de país de brandos costumes. O hospital da Luz é ali mesmo ao lado, mas não é, garanto eu, no estádio.
5 - Gosto de ver regressar à casa de partida jogadores que formámos e que saíram à procura de uma vida melhor. Mas fico de pé atrás quando voltam porque falharam em vários outros destinos e procuram a Luz para tentar relançar as suas fracassadas carreiras.
6 - As intermináveis novelas que dão pelos nomes de João Neves, Renato Sanches, João Félix e Di María - há-as, é facto, para todos os gostos -, por mais cansativas que sejam, têm ao menos uma vantagem, uma estimável vantagem: repararam que ninguém se tem lembrado de “marrar” com o Roger Schmidt? Ao que julgo saber, voltou de férias motivado, com espírito renovado, e os treinos têm decorrido a excelente nível.
7 - Vou torcer por todos os atletas portugueses - à cabeça dos quais o extraordinário Fernando Pimenta! -, vou torcer até pelos atletas do Benfica que representam outros países, mas não o farei relativamente a Otamendi: não compreendo que o capitão, um dos mais bem pagos do plantel, esteja com a época a correr em Paris sem praticamente ter gozado férias. Tinha mesmo que ser o Benfica a satisfazer-lhe o capricho olímpico ao fim de 17 longos anos de carreira? Quantas oportunidades teve para o fazer anteriormente?