Ninguém pode censurar os que optam por este novo filão que se abre na Arábia Saudita, mas também é impossível negar que o país, que nem sequer aprova a Carta dos Direitos Humanos, se está a aproveitar do futebol.
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Depois de Cristiano Ronaldo, Jorge Jesus poderá ser a próxima referência do futebol português seduzida pelos milhões com cheiro a petróleo da Arábia Saudita.
A decisão do treinador será conhecida depois de o Fenerbahçe disputar, já no domingo, a final da taça da Turquia, mas o regresso à Península Arábica para comandar a seleção é praticamente certo.
Os portugueses não são os únicos a viajar para este oásis das reformas douradas. Karim Benzema, por exemplo, também fez a mesma viagem esta semana. A questão, no entanto, reside em saber se estes grandes protagonistas acreditam mesmo quando, como Cristiano Ronaldo, garantem que dentro de poucos anos aquela será uma das cinco melhores ligas de futebol do mundo. Alguém acredita? Nada a apontar a estas opções de final de carreira.
À beira dos 40 anos, o sonho (do futebol) já não comanda a vida de Ronaldo, nem de Benzema, aos 35. E se tivessem 23, a opção também seria legítima. Passámos por um fenómeno idêntico quando grandes empresários chineses, com o alto patrocínio do governo, adquiriram clubes de futebol aos molhos, acolheram estrelas e importaram treinadores.
Depressa as coisas normalizaram, o país, entretanto, ganhou importância geoestratégica e o futebol perdeu protagonismo. Parece-me que não será muito diferente com a Arábia Saudita. Ninguém acorda de repente para o desporto. O esforço, à semelhança do que aconteceu na China escorado na proteção governamental, resulta da necessidade de vender ao resto do mundo um país com valores que, infelizmente, ainda não tem, e o desporto, na sua génese, possui desde o primeiro dia. Ninguém tem areia suficiente para nos obrigar a fechar os olhos a isto. Nem a Arábia Saudita.