Talvez os clubes, a começar pelos portugueses FC Porto e Benfica, façam bem em não incluir nas receitas esperadas para este ano os tais 45 milhões de euros do Mundial de Clubes
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Como alguém dizia, ninguém sabe exatamente o que é uma boa ideia até a testar. Tome-se o Mundial de Clubes como exemplo. Para a FIFA, parecia uma ideia à prova de bala. Juntar os 32 melhores clubes do Mundo, ou pelo menos uma seleção dos mais bem-sucedidos de cada uma das seis confederações internacionais, num torneio intercalar entre Europeus e Mundiais não tinha como correr mal. E, no entanto, a cerca de oito meses da primeira edição, os alarmes dispararam no quartel-general da FIFA.
Na sexta-feira, Gianni Infantino organizou uma reunião de emergência com os executivos das principais cadeias de televisão para tentar vender o torneio, numa altura em que ainda não foi anunciada uma única parceria para a transmissão do Mundial. Nem os estádios que o vão receber, nem os centros de treino a serem utilizados pelos clubes, nem os patrocinadores que a vão sustentar. Os participantes (dos 32, 30 já são conhecidos, incluindo FC Porto e Benfica) também ainda não foram informados oficialmente dos valores relativos a prémios de participação e progressão na prova. A expectativa era a de que o novo Mundial assegurasse cerca de 45 milhões de euros a cada equipa participante, mas é cada vez mais incerto exatamente como é que a FIFA conseguirá financiar uma despesa dessa dimensão. Um acordo com a Apple para a transmissão global da prova acabou por não se concretizar e, de acordo com o The Athletic, fontes na indústria de entretenimento referem que as expectativas da FIFA estão muito distantes do valor atribuído pelas principais cadeias de televisão e plataformas de streaming. E sem acordos relativamente aos direitos televisivos que garantam a exposição, os patrocinadores hesitam em associar-se ao evento. Aliás, na página do Mundial, no site da FIFA, não consta o nome de qualquer patrocinador. De resto, estes problemas de financiamento juntam-se à resistência manifestada por inúmeros clubes ao prolongamento da temporada por mais um mês e, sobretudo, pelos jogadores, com os sindicatos que os representam em Inglaterra, Itália e França a avançarem com ações apoiadas pela FIFPro alegando que os direitos dos atletas estão a ser violados. Talvez tudo acabe por se resolver. No limite, talvez a própria FIFA suporte a despesa da primeira edição como um investimento a longo prazo ou consiga convencer os amigos árabes a financiar a coisa. Pelo sim, pelo não, talvez os clubes, a começar pelos portugueses FC Porto e Benfica, façam bem em não incluir nas receitas esperadas para este ano os tais 45 milhões de euros do Mundial de Clubes. Às vezes, só se consegue reconhecer uma má ideia quando já é demasiado tarde.