O sucesso resulta sempre de múltiplos fatores. Num Mundial tão equilibrado, com uma final a condizer, o perfil do líder terá sido decisivo.
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"Os meus pais deram-me uma forma de entender, de nunca baixar os braços, de não ir contra ninguém e olhar sempre em frente. Deu frutos". Acabadinho de conduzir a Argentina ao título mundial, Scaloni conseguiu largar estas palavras.
O outro Lionel da albiceleste pegou numa equipa dividida e devolveu-a à glória, que começou com a conquista da Copa América, em 2021, troféu que fugia ao país desde 1993. Depois de anos a fio em sacrifício na seleção, até Messi recuperou o sorriso após a chegada deste selecionador.
Os méritos estratégicos de Scaloni são contados em títulos. Ontem, duas ou três nuances fizeram toda a diferença na dinâmica do novo campeão do Mundo. Contra Marrocos, os franceses tinham revelado muitas dificuldades para fechar o flanco esquerdo da defesa. Obviamente, também Deschamps terá identificado o problema. Mas Scaloni não hesitou em colocar Messi bem colado à direita, fixando as atenções na estrela da companhia e direcionando rapidamente o jogo para o corredor oposto, bem aberto às investidas de Di María. Também optou por contrariar Mbappé de uma forma hábil: manter Griezmann sem bola ou rodeado de jogadores sempre que esta lhe chegava ao pé. Com estes dois pormenores e jogadores a abordar todos os lances de faca nos dentes, quase ganhou a partida antes do intervalo.
Espanta, portanto, que depois quase tenha deixado escapar a vitória, aparentemente, por demorar muito a mexer num lado direito a perder fulgor físico, atrás e no meio. Quando mudou a fundo, já no prolongamento, recuperou o domínio.
Se calhar, com a Argentina, tinha de ser mesmo assim. Com sofrimento. Ou então, o lado humano de Lionel Scaloni, que prefere olhar em frente, como lhe ensinaram os pais, sem ir contra ninguém, é tão importante no comando de um grupo que persegue grandes conquistas como as mudanças na equipa. Não é preciso inventar inimigos. A motivação, pela positiva, pode fazer a diferença.