Há um milhão de razões de génese social para se criticar o Mundial do Catar. Já em relação à data de realização do torneio, não me parece, talvez seja só uma questão de egocentrismo.
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No dia 14 de junho de 2018, a Rússia, seleção anfitriã, goleou a Arábia Saudita, por 5-0. A partida marcou o arranque da grande festa, o primeiro Campeonato do Mundo disputado no Leste europeu.
Nesse mesmo dia, no outro hemisfério, o Bahia bateu o gigante Corinthians, com Walter a defender as redes dos paulistas.
O guarda-redes habitual titular, Cássio, encontrava-se integrado na seleção brasileira, que haveria, três dias depois, de se estrear na prova com um surpreendente empate frente à Suíça.
As equipas sul-americanas e de outras latitudes onde o futebol não é tão amado, andam desde 1930 a disputar os mundiais com a época desportiva em andamento. Em 2018, por exemplo, o campeonato brasileiro não parou. É verdade que apenas três jogadores convocados por Tite atuavam no Brasileirão, mas ninguém se terá queixado. Se fossem mais, provavelmente, o orgulho seria ainda maior.
Na Europa, e em Portugal concretamente, não faltam críticas ao facto de o Mundial"22 se disputar com as ligas em andamento. Os sul-americanos levam com esta terrível "tragédia" desde 1930 e ninguém se lembrou de ser solidário. É um problema dos europeus, que continuam a ver o Mundo sentados em caravelas quinhentistas, como se o futebol fosse mais importante neste continente do que na América do Sul. A razão talvez seja outra. Dando como exemplo Portugal, a maioria dos jogadores chamados a seleções presentes no Catar pertencem, sem surpresa, aos grandes clubes. Curiosamente, os que têm equipas A, B, C, Z, sub-23 e por aí adiante.
O problema é que, se as competições prosseguissem, os jogos seriam mais disputados, porque os chamados pequenos continuaram a ter os plantéis na máxima força. Ora, isso é tudo o que a minoria não quer, não está habituada, convive mal com o insucesso. É assim em tudo, até na divisão das verbas provenientes das receitas televisivas, que só vão ter partilha mais justa graças à intervenção do Estado. Bom, teremos sempre a Taça da Liga, para nos divertir. E, é justo dizer, esta visão egocêntrica está longe de ser um exclusivo português.