DE CABEÇA - Opinião de Vítor Santos
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Os três jogos de castigo aplicados a Paulinho, na sequência da expulsão na final da Taça da Liga, passaram, por tempo indeterminado, a dois, numa decisão sem trânsito na Justiça desportiva, o que causaria surpresa em qualquer parte do Mundo.
Como estamos em Portugal, é só mais uma situação, na sequência de outras, que congelaram as suspensões de Palhinha e Pepe, também nas vésperas de clássicos.
Para que não restem dúvidas, clarifico que gosto de ver os melhores jogadores nos grandes jogos. Paulinho é daqueles que acrescentam ao espetáculo, dá tudo em campo e joga com sentido de missão em função dos interesses da equipa, embora nem sempre compreendido e frequentemente brindado com assobios, até na plateia de Alvalade.
Este desejo de ter grandes cartazes com grandes intérpretes não pode, no entanto, desviar a atenção do óbvio: se os clubes aprovam os regulamentos, se há uma Justiça para o desporto, faz sentido recorrer aos tribunais comuns para dirimir estas questões? Parece-me claramente que não.
O avançado ficou duas vezes fora da convocatória e a entidade patronal a contar os dias para recorrer na hora certa. Esse não é o espírito do desporto. Aliás, nunca o Sporting ou outro clube questionou, ao longo da temporada, os prazos para a defesa, argumento agora usado e que está na base da aceitação da providência cautelar pelo Tribunal Central Administrativo do Sul.
No limite, se este expediente se "democratizar", pode tornar-se inviável cumprir qualquer castigo na jornada seguinte. Percebe-se que os leões queiram ter o seu melhor ponta-de-lança em campo. É legítimo. Mas não devia valer tudo. Atendendo à responsabilidade que têm no desporto nacional, a postura devia ser outra.
Mais lamentável ainda é constatar que estas coisas acontecem sempre tendo os principais clubes como protagonistas. São privilegiados em tudo, da relva ao espaço mediático, e nunca parecem satisfeitos, além de se acharem no direito de se indignarem mais do que os outros.
Repare-se na tormenta em que se transformou a derrota do Benfica em Braga. As águias têm objetivamente razões para estarem descontentes com a arbitragem - aquela falta sobre Gonçalo Guedes na área tinha de ser sinalizada, é inadmissível que, pelo menos o VAR, não a tenha visto -, mas o Benfica, posteriormente, foi bem mais penalizado por uma falta despropositada de Bah, ficando a jogar com menos um e, então sim, passou de dominador a dominado. Mais tarde, no desempate por grandes penalidades, o Sporting de Braga foi mais competente, porque Aursnes permitiu a defesa a Matheus. Mas pelo que vimos e ouvimos depois daquele jogo, parece que só o árbitro errou. Imaginem agora como seria o futebol português se os outros, os clubes menos grandes, tivessem o mesmo tempo de antena.