JOGO FINAL - Uma opinião de Vítor Santos
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O Ministério Público pede pena de prisão para Rui Pinto, o denunciante que conseguiu abalar projetos obscuros do futebol, mostrando à sociedade indícios sólidos de patranhas indecentes, desde há muito comentadas em surdina.
Rui Pinto expôs uma parte da nebulosa que encobre os negócios obscuros do futebol. Contribuiu para investigações noutros países, mas em Portugal, na sequência das revelações, corre o risco de ser o primeiro a conhecer condenação.
É natural que os visados não fiquem contentes, desde logo pelos conteúdos vergonhosos expostos, até porque alguns têm origem nos mais aparentemente impolutos paladinos da verdade desportiva. Rui Pinto revelou, por exemplo, contratos ruinosos para os clubes e troca de correspondência digital com conteúdos que deixam poucas dúvidas sobre, pelo menos, tentativas de influenciar escolhas de árbitros, entre muitas outras situações nada abonatórias para quem as protagonizou.
A informação disponibilizada pelo "whistleblower", através da plataforma "Football Leaks", foi decisiva para desmontar casos de lavagem de dinheiro e corrupção em países como França e Espanha, onde a Justiça e o Fisco não perdoam os prevaricadores, atuando com uma celeridade muito diferente daquela que nos faz desesperar em Portugal.
Independentemente do mérito das acusações que lhe são imputadas e da forma como foram obtidos os documentos - em linha com a operação de outros denunciantes -, é claro que há um antes e um depois de Rui Pinto no futebol português e até no futebol europeu.
E também não existe qualquer dúvida sobre o interesse público da matéria em causa, replicada por órgãos de informação de todo o mundo. Mas começa a ser mais ou menos evidente que Rui Pinto será o primeiro a conhecer sentença, enquanto outros prevaricadores continuam à solta, o que consiste num péssimo sinal para a credibilidade da Justiça.