PRESSÃO ALTA - Um artigo de opinião de Alcides Freire, diretor adjunto do jornal O JOGO
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O resultado da final da Liga dos Campeões de sábado não interessa nem um pouco para o que daqui para a frente se destaca. O Paris Saint-Germain que chegou à final da Liga dos Campeões entrou no relvado do extraordinário Allianz Arena com três jogadores portugueses no onze inicial e ainda mais um sentado no banco de suplentes. E só isso já é extraordinário, porque é apenas mais um indicador da incrível máquina que é a formação “made in” Portugal. Formação feita pelos clubes, claro, mas também — e merece sublinhado — pelas associações distritais, que continuam a ser escolas silenciosas de talento. E ainda pela FPF, que este domingo volta a mostrar ao mundo a qualidade dos nossos escalões de formação com a presença de Portugal na final do Europeu Sub-17.
E, tal como o resultado da Champions de sábado, também aqui o desfecho será o que menos interessa. Uma vitória da equipa “luso-parisiense” ou da seleção nacional jovem servirá, no máximo, para uma nota artística mais vistosa. O essencial está feito — e está bem feito. O trabalho de base, esse, é nota 10. E isso não é frase feita: é a constatação de um padrão que se repete, época após época, geração após geração.
O momento do futebol português é bom. Francamente bom. Mesmo que, olhando ao quadro interno, por vezes nos pareça um permanente estado de desorganização. Há treinadores portugueses nos principais campeonatos do mundo. Há jogadores portugueses nas maiores decisões do futebol internacional. E há até dirigentes — embora poucos — em lugares de destaque. Quando não há, é só procurar melhorar: há-de aparecer mais um técnico ou um futebolista estrangeiros a conquistar espaço num gigante europeu, depois de brilhar por cá.
Mas, uma tarde passada no congresso que assinalou o 30.º aniversário da ANDIF (Associação Nacional de Dirigentes de Futebol, Futsal e Futebol de Praia) bastou para acrescentar uma outra ideia à equação: a de que há ainda um longo caminho a percorrer pela classe dirigente portuguesa para não se atrasar ainda mais face ao sucesso de treinadores e jogadores. Há, sim, casos de directores-desportivos em clubes históricos, há CEO portugueses em ligas estrangeiras e em projetos de referência, como Luís Campos, no PSG. Mas continuam a ser a exceção e não a regra.
O primeiro passo para subir mais um degrau poderia ter sido dado a 30 e 31 de maio, com uma maior comparência no Terminal de Cruzeiros de Leixões, ouvindo, debatendo, partilhando conhecimento e, acima de tudo, enfrentando a realidade. Pensar que isto ainda vai lá só com amor à camisola é, convenhamos, uma doce ingenuidade. E um luxo que o futebol português já não se pode permitir.