Leia a opinião do jornalista Carlos Flórido
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Os 88 atletas israelitas que estão nos Jogos de Paris vivem numa “bolha” mesmo dentro daquele que já é o perímetro de alta segurança da Aldeia Olímpica. Os seus alojamentos são os únicos não identificados, estão separados dos restantes e sob vigilância constante de uma força de elite, tornando difícil e sufocante o dia a dia de uma delegação que, apesar de tudo, soma seis medalhas, incluindo o ouro de Tom Reuveny na vela. O presidente do comité olímpico israelita já lamentou as condições difíceis em que os seus atletas competem, recebendo ameaças de morte nas redes sociais e estando sujeitos a insultos - a maioria controlados ou evitados - nos locais de competição, onde cartazes com a palavra “genocídio” ou bandeiras da Palestina rivalizam com as de Israel.
Para a organização dos Jogos, o conflito do Médio Oriente representa uma ameaça maior do que o da Ucrânia, mais pela possibilidade de atentados públicos do que por uma repetição de Munique’1972 - a organização palestina “Setembro Negro” assaltou a Aldeia Olímpica e matou 11 atletas israelitas.
Esse passado fatídico é um dos meus argumentos quando defendo a presença de Israel em Paris, tendo a Rússia ficado de fora, mas sempre destacando a maior diferença: Putin iniciou três guerras durante tréguas olímpicas e a exclusão é justa, o conflito de Gaza já decorria quando Paris’24 arrancou. No entanto, o escalar da guerra e a ameaça de abertura de novas frentes por parte do regime de Benjamin Netanyahu, que tem um ministro a declarar publicamente que será “justo e moral” fazer os dois milhões de residentes em Gaza passar fome, levam-me a desistir. Israel não deveria estar nos Jogos e imagino que o Comité Olímpico Internacional, se tivesse de decidir hoje, também colocaria essa hipótese.