Frontal e genuíno, Sérgio Conceição foi bem mais ponderado no regresso às conferências de Imprensa do que aqueles que lhe apontam o dedo.
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Se fosse uma laranja, a conferência de Imprensa de Sérgio Conceição, que ontem voltou a falar aos jornalistas depois de 37 dias em silêncio, ainda estaria hoje a dar sumo.
Não falta quem lhe aponte defeitos, mas ninguém que pode negar a qualidade de ser genuíno e a capacidade de assumir os erros. Respondendo a tudo e mais alguma coisa, admitiu que, a frio, mudaria alguns comportamentos que tantos castigos lhe custaram. Esta é a verdade, por muito que a queiram esconder, embora argumentando a difundam, de forma encapuçada ou dando a cara em paródias televisivas: Conceição não faz o que quer no banco, não é inimputável, é punido como nenhum outro. E, sejamos claros, também já foi punido sem razão nenhuma, por dar um chuto numa bola quando esta estava fora do campo. Se fosse numa garrafa, talvez não lhe acontecesse nada.
No meio de tanta resposta, retenho-me numa, a propósito dos excessos no banco, que o técnico deixou em jeito de explicação, embora sem querer justificar o que quer que fosse. "Mas qual foi o meu percurso, o meu trajeto de vida?" Era capaz de se estar a referir ao facto de ter ficado muito cedo sem os pais. E de ter lutado muito para chegar onde chegou. Quem nasceu em berço de ouro - nada contra, tomem nota - e teve colo até à idade adulta, nunca perceberá como estas coisas nos moldam, para sempre, a personalidade. São perdas irrecuperáveis, por mais vitórias que festejemos, continuaremos sempre insatisfeitos, porque nunca o faremos que quem mais gostaríamos. Como disse, não justifica nada, mas explicará alguma coisa.