Os clubes das ligas secundárias estão cheios de jogadores talentosos, com grandes percursos na formação. Esta mão-de-obra, combinada com organização e competitividade, permite às equipas esbater o fosso que as separa das congéneres do campeonato principal, conduzindo a resultados inesperados, mas justos. <br/>
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Uma razia como aquela a que assistimos no fim de semana, com oito equipas da liga principal eliminadas da Taça de Portugal por emblemas de escalões inferiores, é praticamente irrepetível, mas não acontece por acaso.
Teremos de encontrar uma muleta diferente para assinalar estes feitos, porque o conceito de "tomba-gigantes", a remeter para algo que acontece uma vez na vida, começa a soar desajustado.
Os pequenos já não olham para os adversários de patamares superiores como papões. Têm boas razões para isso. A qualidade de jogo apresentada pelas equipas da II Liga, Liga 3 ou Campeonato de Portugal nesta eliminatória surpreende quem apenas segue os jogos do principal escalão. Há bons jogadores, treinadores e clubes bem organizados nestas ligas, cujo nível tem evoluído de forma consistente ao longo da última década. Não admira... Se há matéria em que Portugal recebe elogios de todos os quadrantes é na formação de jogadores de futebol.
Até há duas décadas, esse era um privilégio de meia dúzia de clubes, mas hoje já não é bem assim. E os grandes formadores têm cada vez mais atletas, entre equipas A, B ou Sub-23, sendo impossível incorporá-los a todos na transição para o profissionalismo. Adiado o sonho, muitos são integrados nos campeonatos secundários, onde a realidade, em termos de infraestruturas e organização - a criação da Liga 3 deu condições excecionais, em termos de estabilidade, aos jovens futebolistas - mudou muito e para melhor, também graças ao investimento das autarquias. As universidades, por outro lado, libertam todos os anos para o mercado jovens treinadores, prontos a integrar ou mesmo a liderar equipas técnicas. É na combinação destes fatores, mais a troca de meia dúzia de jogadores nas equipas habituais, porque a Taça "é para rodar os menos utilizados", que se encontra explicação lógica para o que aconteceu neste fim de semana de festa.