DE CABEÇA - Uma opinião de Vítor Santos
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O agravamento das sanções é necessário, modernizar a legislação e torná-la mais eficazes é fundamental, mas tudo somado não chega para diminuirmos os índices de violência no âmbito do desporto. Para garantirmos estádios e pavilhões seguros, é preciso investir muito mais desde a raiz do problema, que na minha ótica reside na falta de cultura desportiva, uma realidade que, para mudar, tem de ser cuidada desde muito cedo. Por outras palavras, os valores do desporto devem ser transmitidos aos jovens assim que nascem para a vida escolar, numa estratégia de continuidade que deverá ser conjugada com o trabalho de clubes e coletividades.
Para garantirmos estádios e pavilhões seguros, é preciso investir desde a raiz do problema, que reside na falta de cultura desportiva
Defendi esta ideia no debate "Violência no Desporto e o Movimento Associativo Popular", um evento organizado pela Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto, que também contou, como oradores, com a participação de dr. Paulo Fontes, da Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto, e do professor Henrique Calisto, treinador de futebol e administrador executivo da Matosinhos Sport. Sem menosprezo pelos oradores, destaco, sobretudo, os muitos dirigentes presentes, mulheres e homens que se entregam a um trabalho comunitário que poucas vezes é reconhecido, operacionais de instituições que se substituem ao Estado em deveres consagrados na Constituição.
A simples preocupação com o problema e a responsabilidade de o discutir justificam um merecido aplauso aos dirigentes. E, pelo que vi e ouvi, vontade e capacidade não faltam para acrescentar valor a esta empreitada gigantesca de tornar o desporto mais seguro e mais próximo dos valores que estão na sua génese. O Poder Central, além de regulador, tem de disponibilizar mais meios e verbas no sentido de operacionalizar estratégias que permitam fomentar uma convivência tendencialmente mais saudável no ecossistema desportivo.
Claro que, insisto, é fundamental ter uma estratégia de base, através da qual será possível colher frutos a médio prazo. Entretanto, a carruagem não pára, pelo que também os clubes e associações precisam de receber investimento ao abrigo de programas destinados à erradicação da violência. A transferência de competências para os municípios não pode servir para o Estado se demitir da sua responsabilidade, e nem sequer me parece que isso esteja a acontecer. Mas se há matéria em que vale a pena apostar é esta, porque o desporto pode ser estruturante no sentido de uma sociedade mais bem formada e, consequentemente, mais segura.