João Pereira e Ian Cathro tiveram respaldo nos momentos maus, escaparam à razia de treinadores e deram uma grande volta
Corpo do artigo
Numa edição da liga que tem sido marcada pela razia nos comandos técnicos - são muitos mais os clubes que trocaram de treinador do que o contrário - não deixa de ser interessante olhar para Casa Pia e Estoril, separados por dois pontinhos numa zona da tabela bem agradável para esses clubes. Nos gansos, João Pereira foi uma aposta ambiciosa, de projeto. Trinta e dois anos, ainda sem experiência em provas profissionais, mas com trabalhos positivos na Liga 3, num contexto que pode não ter a mesma pressão dos patamares superiores, ainda que também abra outro tipo de desafios: é que as condições não são as mesmas... E como começou o Casa Pia? Péssimo a nível de resultados, três derrotas em igual número de jornadas, sendo que uma delas foi em casa do Benfica. E o que fez a administração do Casa Pia? Nada. Ou melhor, manteve a confiança no treinador, e aí está o resultado. Nesta jornada 20 sofreram apenas a quarta derrota desde então, contra o Santa Clara, outra boa equipa da I Liga.
Bem mais tenso foi o ar que Ian Cathro respirou no Estoril. Além de ter sido eliminado da Taça de Portugal pelo Lusitano de Évora, chegou à 10.ª ronda apenas com duas vitórias, levou com insultos dos adeptos até quando conseguiu uma delas, e havia, pelo menos, a perceção de que o lugar estava por um fio. Se esteve, foi forte o suficiente para deixar o escocês de português perfeito “cozinhar”, como dizem os ingleses, até porque dava a ideia de que os jogadores acreditavam no cozinheiro, o que é meio caminho andado. E aqui estamos: em 2025, nas duas ligas profissionais, o Estoril é a única equipa só com vitórias e dono da maior sequência de triunfos atualmente em andamento no campeonato, quatro, tal como o Braga. Os arsenalistas encontraram a estabilidade, já respiram no pescoço do FC Porto e vivem a melhor fase da época, ao mesmo tempo que limparam a casa no mercado de inverno.
De facto, o futebol é tão volátil como os humores de um adolescente. Não há muito tempo, os dragões estavam a um triunfo da liderança isolada e agora já a têm a oito pontos de distância, antes de receberem um Sporting que vai somando pontos enquanto dribla desgaste e lesões. Vítor Bruno foi ferozmente contestado em novembro/dezembro e André Villas-Boas fez o mesmo do que os presidentes de Casa Pia e Estoril: aguentou, foi tolerante, deu tempo. E agora pensa-se que poderá ter sido esse o erro, porque Martín Anselmi entrou num ciclo competitivo muito exigente, sem pausas para as seleções e com uma equipa que, antes de lutar contra os adversários, tem de lutar contra ela mesma. Ninguém disse que isto era fácil.