Opinião de Nuno Correia da Silva - Apesar de ser recorrente o anúncio de putativos investidores nos clubes portugueses, a verdade é que pouco se concretizou
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O ano inicia-se com uma campanha eleitoral intensa para a Assembleia da República. As eleições legislativas, de 10 de março, apanharam todos de surpresa. Ninguém previa iniciar o ano com uma Assembleia da República dissolvida, com um primeiro-ministro demissionário e com uma campanha em curso.
É notório, nos diretórios partidários, a azafama que se instalou para construir um programa político.
Na construção desse programa, é importante que o futebol, enquanto desporto, enquanto atividade económica, enquanto indústria, ocupe o lugar equivalente ao que ocupa na sociedade portuguesa.
Nos grandes eventos desportivos, nos grandes jogos de futebol, sobretudo em finais, é comum a presença das principais figuras políticas nas tribunas. É importante, mas mais importante será que não se esqueçam do muito que se pode fazer, a nível legislativo e a nível administrativo, para tornar o futebol português mais competitivo.
Recentemente, a 4 de agosto de 2023, foi publicada a nova lei que estabelece o novo regime jurídico das sociedades desportivas. Curiosamente, na apresentação do diploma, foi anunciada a intenção de promover e facilitar o investimento de terceiros em sociedades anónimas desportivas.
Todavia, em todo o texto, nada se encontra que contribua para atrair qualquer investimento para o futebol, ou qualquer outra modalidade.
Apesar de ser recorrente o anúncio de putativos investidores nos clubes portugueses, a verdade é que pouco se concretizou. A aquisição de algumas pequenas SAD’s mais não é que uma forma de contornar o fim dos TPO (Third-Party Ownership), não podendo ter percentagem nos passes dos jogadores, os investidores compram os clubes que são proprietários desses passes.
Quanto a investimento para alavancar, para criar valor económico e desportivo, há poucos ou nenhuns exemplos. Não há, nem pode haver. Se olharmos na perspetiva do investidor, percebemos que nada convida ao investimento. Do ponto de vista financeiro não há memória recente de distribuição de qualquer dividendo, do ponto de vista da gestão os acionistas minoritários estão arredados do poder de decisão, do ponto de vista social têm sido olhados com desconfiança.
É importante que no debate político estes temas entrem na equação, a bem do futuro do futebol.