DE CABEÇA - Uma opinião de Vítor Santos
Corpo do artigo
A reação de Cristiano Ronaldo quando recebeu ordem de substituição no desafio com a Coreia do Sul só tem visibilidade porque estamos perante uma estrela planetária.
Ninguém espera que um dos melhores jogadores da história do futebol reaja daquela forma a uma substituição
Durante um jogo, ainda mais num Campeonato do Mundo, há dezenas de câmaras apontadas, em permanência, ao jogador português. Mérito do capitão da Seleção, cuja dimensão mediática foi conseguida à custa de muito trabalho e de um talento extraordinário, a base de tantas conquistas e recordes. Portanto, Cristiano Ronaldo é vítima dele próprio e desse compreensível desejo de estar sempre em campo. Quem praticou desporto percebe bem o desabafo. Não há jogador que goste de estar no banco. Todos acham que devem jogar. Mas isso não desculpa Cristiano Ronaldo. Ao líder de um grupo exige-se mais. A manifestação de descontentamento, naquele momento, seria admissível se estivéssemos perante um jogador inexperiente. Mas Cristiano Ronaldo tem 37 anos, devia conter-se, porque ninguém melhor do que ele sabe que é o foco de todas as atenções. Estávamos perante um jogo importante, como todos neste torneio, mas nem sequer a derrota impedia Portugal de se qualificar para os oitavos de final do Mundial como vencedor do grupo. Ou seja, não havia objetivos em causa, pelo menos coletivos. Aquelas palavras - no sentido de alguém estar com pressa de o tirar do jogo, temperadas com vernáculo - não foram dirigidas a um adversário. Só Cristiano Ronaldo poderá esclarecer a quem se referia.
Como em quase tudo, a substituição também teve efeitos positivos. Pelo menos um: quem anda há anos a argumentar que Fernando Santos não tem coragem para tirar o capitão do campo, terá de meter a viola no saco. Como é óbvio, o selecionador nacional não é indiferente à força de Ronaldo. Sempre que pode, aproveita para o elogiar. E creio que faz bem, sem que isso signifique que se trata de um elemento com privilégios especiais no grupo. Cristiano Ronaldo é mais um, mas não é um qualquer, bem entendido. Como o treinador do Manchester United, Erick ten Hag, o tratou, quando o quis lançar a partir do banco para um jogo perdido, nos derradeiros minutos.
O problema, na perspetiva de Cristiano Ronaldo, é que com atitudes como a de anteontem corre sempre o risco de acrescentar unidades ao seu exército de críticos. Ninguém espera que um dos melhores da história do futebol, ainda por cima com a experiência de 37 anos e cinco mundiais na carreira, reaja daquela maneira a uma decisão do treinador. E a explicação que veio a seguir, saltando uns segundos para poder argumentar que falava para um adversário (situação que efetivamente aconteceu, mas nada tem a ver com o descontentamento pela substituição) também não credibiliza um Cristiano Ronaldo que, há um par de semanas, numa espécie de entrevista, se queixava de que tudo o que a Comunicação Social escreve sobre si é mentira.