Falta uma jornada, mas parece que tudo está como dantes: campeão por decidir, luta europeia em aberto e contas de descida a fazer com calculadora
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Nem todos se lembrarão do filme O Feitiço do Tempo, mas, resumindo em curtas palavras e adaptando o enredo ao futebol, todos nós somos o Phil Connors, presos no mesmo dia desde o último apito final da 33.ª jornada da I Liga. Passou mais uma ronda, falta apenas uma, mas parece que nada, ou quase nada, aconteceu. No próximo sábado, como no passado sábado, cafés, coletividades, casas e núcleos voltarão a encher-se de gente equipada com a camisola do coração. Entretanto, o país ficará em suspenso por pouco mais de 90 minutos depois das 18h00. Antes, esses mesmos portugueses podem — e devem — refletir sobre o que farão nas eleições de domingo, não vá a emoção levar a decisões mal pensadas.
O nome do campeão poderia ter sido anunciado com pompa ou dramatismo no sábado ao início da noite, mas o empate no dérbi “eternizou”, por mais uma semana, as contas e os debates sobre quem iluminará o Marquês, em Lisboa. Verde ou vermelho? Só o Sporting depende de si, mas terá como adversário o Vitória, que jogará em Alvalade a depender também do que fizer para poder chegar à Liga Conferência. À espreita está o Santa Clara — com os mesmos pontos dos vitorianos, mas em desvantagem no confronto direto —, interessado numa vitória do Sporting, ainda que, aos açorianos, um empate leonino possa servir os objetivos. O mesmo pensamento terá o Benfica, que, não dependendo apenas do que fizer em Braga, sabe que, fazendo melhor do que os leões, regressará do Minho a Lisboa a fazer a festa de campeão.
Resta uma jornada e as contas estão por fechar. No topo da classificação — a questão do terceiro lugar está fechada para o lado do FC Porto, a não ser num cenário tão improvável como o Braga vencer as águias por 8-0 e os dragões perderem… —, e no fundo da mesma tabela, onde, além da camisola do clube do coração, recomenda-se igualmente uma máquina de calcular ou algum à-vontade em fazer contas de cabeça. Neste particular, Phil Connors é adepto do Estrela da Amadora, Aves SAD, Farense e Boavista. Passou uma semana, mas tudo parece na mesma. Ou quase. Na prática, os axadrezados — últimos — apenas aspiram ao lugar de play-off; os outros três podem celebrar a permanência, agarrarem-se à eliminatória com o terceiro classificado da II Liga ou chorarem uma despromoção.
Perante um cenário de tanta emoção até ao apito final, que mais se podia pedir para um campeonato que parecia vaticinado antes ainda de acabar a primeira volta? Desta vez nem dos horários dos jogos podemos queixar-nos. Nem que fôssemos Phil Connors, egocêntrico e sarcástico meteorologista...