JOGO FINAL - Uma opinião de Vítor Santos
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Circunscrever no universo dos adeptos a responsabilidade pelos assobios quando um jogador entra em campo para representar a Seleção Nacional é demasiado simplista. E ao contrário do que ouvi e li, estas manifestações absurdas não existem apenas em Portugal.
O ambiente da microsfera do futebol português não é assim tão diferente de outros, com picos frequentes de toxicidade que dificilmente serão eliminados enquanto subsistir o ambiente de guerrilha semeado pela comunicação dos clubes.
Mas dentro da forma apaixonada como se vive o futebol, concordo com Roberto Martínez: os assobios a Otávio "são uma doença". Sem ofensa. Quem nunca usou a palavra "doente" como adjetivo para definir o adepto que ama cegamente um clube? Como todas as paixões, no entanto, também estas se podem transformar em enfermidades graves, daquelas que levam pessoas educadas a cometer crimes nas bancadas, perdendo a cabeça no pináculo da emoção (ou da frustração) de um futebol que, como dizia Sacchi, é apenas "a coisa mais importante entre as menos importantes". O que não é coisa pouca.
Os assobios a Otávio e a João Mário, na Luz e em Alvalade, além de inadmissíveis, resultam da paixão incandescente de alguns adeptos, não muitos, felizmente. Da mesma forma que não há fumo sem fogo, também não há fogo sem ignição. O rastilho que conduz a estes comportamentos tem origem dentro do próprio futebol, reflexo de um tempo em que é cada vez mais complicado discernir entre comunicação e intoxicação, projetada com o alto patrocínio dos clubes.
Não é muito difícil manipular os adeptos, sobretudo os mais desatentos e apaixonados. Ainda está por descobrir a cura imediata para a doença de que fala o selecionador. Mas vale a pena apostar na profilaxia, que terá forçosamente de passar pelos gabinetes de comunicação dos clubes, salvo honrosas exceções, quase todos transformados em laboratórios de guerrilha verbal.