A entrevista de Ronaldo deu a volta ao mundo sem passar pelo enclave onde está instalada a Seleção. Ninguém fala o assunto, garante Fernando Santos. É muito difícil acreditar que seja assim.
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Assim que foram divulgados os primeiros excertos, a entrevista de Cristiano Ronaldo correu mundo, rivalizando com notícias bem mais importantes, como aquelas que dão nota de uma guerra na Europa, da inflação galopante, das dificuldades para conseguir uma casa.
Pelos vistos, os ecos das palavras do jogador só não chegaram ao estágio da Seleção.
No início da semana defendi, neste espaço, que as declarações de Ronaldo em nada afetariam a preparação e o desempenho da Seleção - não é por causa de alguém dizer cobras e lagartos do treinador e dos responsáveis do Manchester United que Portugal deixará de ganhar ao Gana no Campeonato do Mundo. Se não acontecer, será porque a bola não entrou, ou por ter entrado mais vezes na nossa baliza.
Estava, porém, longe de imaginar que nenhum jogador tivesse comentado dentro das quatro paredes que blindam o estágio uma entrevista que abalou o futebol. A não ser que todos pensem como CR7, que considera a Imprensa "lixo". Nem todos têm a mesma opinião, felizmente. Há quem goste de ler notícias.
Surpreende-me, por isso, que Fernando Santos tenha afirmado que ninguém fala sobre a situação do capitão. Que nada ouviu sobre o assunto na concentração. A hipótese de o futebol ser mesmo um mundo à parte também não colhe, menos ainda a existência de uma lei da rolha no estágio. O selecionador não tinha de ficar uma conferência inteira a dissertar sobre o tema, mas também não havia necessidade de o varrer assim para debaixo do tapete, como se fosse possível alguém acreditar que os 26 convocados são as únicas pessoas que gostam de futebol que nunca falam sobre esta entrevista.