DE CABEÇA - Um artigo de opinião de Vítor Santos.
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A vitória do FC Porto na Luz é normal e lógica, antes e depois de acontecer.
Haverá ainda boa gente a abrir a boca de espanto, encarando o resultado com grande surpresa, por desconhecimento em relação ao passado recente e à capacidade do campeão nacional, provavelmente.
Ninguém ganha nem perde sozinho, mas, em seis visitas como treinador do FC Porto, para o campeonato, à casa do Benfica, Sérgio Conceição só perdeu uma vez. De novo com o maior rival no caminho, o técnico portista teve de preparar o duelo num contexto de adversidade, ao ser confrontado com uma onda de lesões, que, no entanto, não o impediu de apresentar uma equipa inicial com onze campeões. Sem necessidade de qualquer truque de alquimia tática, estudou o adversário e apresentou a proposta: retirar-lhe a iniciativa, ser eficaz na pressão, com personalidade e disponibilidade física, de forma a ter um conjunto agressivo na conquista da segunda bola, o que permitiria manter a iniciativa e comandar a partida, condição coletiva para ficar mais perto de a ganhar, depois, através do génio individual.
Porque estes jogadores, ao contrário do que tantas vezes lemos e ouvimos, são bons. Chegaram para ganhar a Supertaça, a Taça da Liga, discutir até ao último sopro a passagem aos quartos de final da Champions, marcar presença, em breve, nas meias-finais da Taça de Portugal e continuar na luta pela renovação do título. A inteligência e virtuosismo de Uribe, Otávio e Pepê libertaram-se na plenitude, permitindo superioridade evidente sobre o adversário na distribuição do jogo para zonas onde havia espaço. Esta definição tão eficaz do quadrante certo para ferir o Benfica resultará também da estratégia de Sérgio. Parece simples.
Como escrevia ontem Jorge Maia nas páginas de O JOGO, o s azuis e brancos plantaram "uma semente de dúvida" no Estádio da Luz. Acrescento que também sublinharam uma certeza: centrando a análise no plano interno - como dizia Schmidt, os jogos da Champions são diferentes - o líder do Campeonato não conseguiu vencer o Sporting, perdeu em Braga, foi derrotado pelo campeão em casa e venceu-o fora, mas numa partida em que jogou uma hora em superioridade numérica, remetendo para a estafada máxima de uma equipa forte com os fracos e fraca com os fortes.
Veremos se o que resta às águias na Liga, com receção ao Braga e visita a Alvalade, permitirá desmentir esta ideia. Ainda assim, reconhecia Conceição, o Campeonato é uma maratona. A regularidade, que confere uma vantagem de sete pontos ao Benfica, costuma revelar-se fundamental, se não acontecer algum desfalecimento, maleita comum no último terço das maratonas.