O único problema é que este processo viciante corre nas veias de muitos personagens que não fazem falta ao futebol.
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É comum ouvirmos dizer que não há drogas boas. Vamos já excluir os medicamentos para percebermos melhor daquilo que estamos a falar.
O treinador Vítor Pereira, bicampeão nacional no comando do FC Porto, explica que, com o tempo, para ele "o futebol se transformou numa droga".
Não estando a treinar, mesmo confortável em casa na companhia da família - sim, este mundo de sonho para o comum dos adeptos tem particularidade de, não raras vezes, obrigar os seus profissionais a enfrentar aquilo que ninguém gosta, estar longe dos pais, das mulheres, dos filhos, dos amigos - está a ressacar, porque o desporto deixou de ser apenas uma paixão e passou a ser, sobretudo, um vício. Que não prejudica ninguém, nem, eventualmente, o próprio, tenhamos noção disso.
Podemos ouvir e andar, ou parar para tentar perceber um pouco melhor o discurso de Vítor Pereira, ontem, nessa extraordinária realização que foi a "Thinking Football Summit". Mais adiante, o técnico admitiu que vai morrer assim, agarrado ao admirável mundo do futebol. Vítor Pereira é um dos grandes treinadores portugueses, com trajeto e títulos dentro e fora do país. Agrada-me a convicção com que sublinha estar destinado a morrer agarrado a este vício, porque pessoas como Vítor Pereira fazem falta ao futebol. Acrescentam e não medem sequer as palavras, porque têm sempre a verdade presente no discurso.
O único problema é que este processo viciante corre nas veias e sobe à cabeça de muitos outros personagens que não fazem falta nenhuma ao futebol. Gente que gravita à volta do jogo, vive à custa dele e que em nada contribui para alimentar esta paixão coletiva pelo desporto mais amado do mundo. Ou seja, até as drogas que sem pensar muito podemos classificar como boas, circunscrevendo-as a casos como o de Vítor Pereira, podem fazer as suas vítimas, que, quando assim acontece, está bom de ver, é só uma: o próprio futebol.