DE CABEÇA - Uma opinião de Vítor Santos
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Sopram por estes dias ventos de indignação por causa de António Silva. O defesa-central do Benfica nem meio ano tem de equipa principal e já foi captado para o epicentro de uma polémica com pouco sentido.
A sucessiva ausência de Vitinha nas opções iniciais do selecionador é tão ou mais controversa do que a eventual presença do defesa-central encarnado nos convocados.
À beira de completar 19 anos, o defensor formado no Seixal espantada meio mundo devido à forma competente e adulta como se apresenta em campo, dando razão a quem advoga que os grandes problemas escondem grandes oportunidades. Lançando por Roger Schmidt face à onda de lesões - entretanto transformada em excesso de opções - no eixo central da defesa, o jogador não só correspondeu como até criou uma boa dor de cabeça ao alemão, que lá terá de deixar no banco os milhões gastos na pré-época com João Victor. Isto não devia abrir controvérsia nenhuma.
O problema é que, de repente, surgem uma série de "selecionadores" a colocar o rapaz nas bocas da convocatória, numa pressão desenfreada para Fernando Santos o incluir na lista de eleitos para o Mundial. Se todos os jogadores (menos Rafa, o que é respeitável) desejam estar no Qatar, também é admissível pensar que transferir a discussão para este nível, empurrando para segundo plano o que é verdadeiramente importante, o crescimento meteórico de António Silva, não beneficia o jogador.
Na quarta-feira passada, o defesa realizou mais uma atuação imaculada, mas não foi o único português a brilhar nesse jogo. E também aqui a seleção pode entrar em cena. Por que razão Vitinha não é presença assídua no onze inicial de Fernando Santos? Como pode Portugal ter no banco o médio que chegou ao todo-poderoso PSG e se impôs facilmente, comandando, com Verrati, uma constelação de estrelas? Só Fernando Santos poderá explicar a opção pela dupla Rúben Neves-William Carvalho, provavelmente ligada ao facto de ser necessário compensar a dificuldade que os jogadores mais adiantados da Seleção, sobretudo Cristiano Ronaldo, evidenciam quando é preciso pressionar alto o adversário.
A sucessiva ausência de Vitinha nas opções iniciais do selecionador é tão ou mais controversa do que a eventual presença do defesa-central encarnado nos convocados. Sendo que, no caso de ser chamado, ninguém ficará admirado. Quem apresenta em jogos consecutivos aquele grau de fiabilidade pode sempre acrescentar, mas partirá no banco de trás, na sombra de Pepe (se a lesão permitir, há de lá estar), Rúben Dias ou Danilo. Como partiu no Benfica, de resto. Acontecerá o mesmo na Seleção, mas não vale a pena fazer transformar um jovem talentoso sem qualquer internacionalização A em D. Sebastião. António Silva, se continuar assim, ganhará o seu espaço. Tempo, atendendo à idade, não lhe falta.
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