DE CABEÇA - Uma opinião de Vítor Santos
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O mais criticado treinador do futebol português passou, quase de uma hora para a outra, a ser o mais elogiado. Aconteceu com Sérgio Conceição.
De repente, no entanto, Sérgio Conceição foi muito elogiado na última semana. Tudo porque colocou a tónica na falta de meios financeiros ao nível do maior rival na luta pelo título, o Benfica.
Na conferência de Imprensa após o jogo com o Inter, na Liga dos Campeões, o técnico do FC Porto partilhou a insatisfação por não lhe ser dado o devido mérito, assinalando o facto de, apesar de tantas conquistas num período delicado, em termos financeiros, da vida do clube, sempre ser falado por maus motivos. Sérgio Conceição tem razão. E nem sequer é o primeiro treinador do FC Porto a conviver com essa realidade. O próprio José Mourinho, vencedor da Taça UEFA e da Liga dos Campeões no comando dos azuis e brancos, só se tornou consensual no nosso país depois de rumar a Inglaterra.
Até então, enfrentou o mesmo problema de enviesamento da análise em função do clube que representa. Claro que nem todas os comentadores são injustos, mas tomando como exemplo o especial treinador da Roma, com a devida distância temporal, basta perguntar-lhe e obter resposta para se perceber que o mérito, em Portugal, tem na geografia uma variante muito importante. É mais difícil de ser obtido a Norte, e nem sequer se trata de um problema do futebol, uma vez que é abundantemente replicado noutras áreas da sociedade.
De repente, no entanto, Sérgio Conceição foi muito elogiado na última semana. Tudo porque colocou a tónica na falta de meios financeiros ao nível do maior rival na luta pelo título, o Benfica, ainda que isso não o tenha impedido de ser dominador ao longo dos seis anos que leva como treinador do FC Porto. Junte-se a isto a insatisfação por entender que o presidente portista, Pinto da Costa, não acompanhou o seu discurso, e eis que chegamos, quase por acaso, à fórmula perfeita para os méritos lhe serem universalmente consagrados, sem ser necessário sair do clube da Invicta.
É possível perceber, recorrendo à mais exata das ciências, a Matemática, que, se Sérgio Conceição não ficar, o FC Porto e o futebol português perdem um ícone de sucesso.
Sérgio Conceição tem mais um ano de contrato e - vida de treinador e jogador é assim mesmo - não é certo que continue. Desde logo porque o trabalho desenvolvido no Dragão lhe confere um crédito muito importante além-fronteiras onde, ao contrário do que nem sempre acontece em Portugal, os técnicos do FC Porto são reconhecidos em função dos resultados, o que faz todo o sentido, porque de bons e maus feitios está o Céu cheio.
É impossível, portanto, dizer com total assertividade se Sérgio Conceição cumprirá o derradeiro ano de contrato, ou até se renovará o vínculo. Mas é possível perceber, recorrendo à mais exata das ciências, a Matemática, que, se não ficar, o FC Porto e o futebol português perdem um ícone de sucesso. Por um motivo simples: ninguém na história portista ganhou tanto como Sérgio Conceição.