O futebol profissional, esse sonho de qualquer miúdo, é visto por Schjelderup como "um mundo doente". É estranho que uma rapaz de 19 anos pense assim. Mas compreendê-lo é mais simples do que parece
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Quando me dizem que o dinheiro não traz felicidade, lembro-me sempre que nunca ouvi falar de um milionário com vontade de ser pobre. Talvez existam, claro, todas as regras têm exceções. Diferente, e nisso estamos de acordo, é perceber que o dinheiro não garante a felicidade a ninguém.
Se lerem as palavras de Schjelderup nesta edição de O JOGO percebem do que pretendo falar. Protagonizou uma transferência de sonho para qualquer miúdo de 18 anos, terá aumentado consideravelmente o volume da conta bancária, mas sentiu-se frustrado no Benfica. Foi tentar ser feliz noutras paragens: "O futebol é um mundo doente", considera.
Recordo, na mesma linha, as palavras de Fábio Silva: "Gostava de ter continuado mais um ou dois anos no FC Porto, para sair mais preparado". Impossível. O ponta-de-lança, aos 18 anos, trocou os azuis e brancos pelo Wolverhampton, numa transferência orçada em 40 milhões de euros.
E seria fácil encher este texto de exemplos de mudanças milionárias, até por valores bem superiores, como, por exemplo, a de João Félix, que não se mudou para o clube certo - já na altura estava bom de ver - mas para onde havia vontade de pagar a cláusula de rescisão.
Este é o modelo de financiamento do futebol, que oferece mordomias faraónicas, mas não garante felicidade a ninguém. Percebe-se o processo: se os adeptos querem equipas competitivas, é fundamental aproveitar as oportunidades que as vão sustentar. Mas depois, pensando nestes jovens que vemos como privilegiados, não estarão eles a perder o maior de todos os privilégios?