Época vai superar todos os recordes de espectadores e os organizadores dizem existir mais mulheres nas bancadas, dando a explicação: foi um documentário que as seduziu
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Os números da Fórmula 1, embora aparentemente sejam quase todos públicos, na realidade escondem mistérios. Por isso, os bilhetes vendidos em cada corrida, valores quase só fornecidos em totais de fim de semana (ver quadro), merecem algumas reservas.
Descobrir os dramas dos pilotos humanizou a F1 e cativou novos públicos
Há, no entanto, dados indesmentíveis e a época de 2019, estando a três corridas do final, vai superar os números de espectadores da anterior, que já foi considerada um recorde absoluto. A explicação não está na pista, mas na televisão: o documentário da Netflix "Drive to Survive" ("Pilotar para Sobreviver") cativou novos públicos, sobretudo femininos.
"A série teve um grande efeito nas mulheres, que acham as corridas aborrecidas, mas descobriram os dramas que estão por trás, que há outra história. Isto deixou de estar tão distante, tornou-se mais humano", afirmou Alejandro Soberon, presidente da organização do Grande Prémio do México, que teve um recorde de 345 694 pessoas entre sexta-feira e domingo e, com 135 mil a verem a corrida, só não superou o máximo de Silverstone porque em Inglaterra também houve mais gente: 141 mil no domingo.
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Para este fim de semana, Bobby Epstein, dono do Circuito das Américas, no Texas, também já sabe que o GP dos Estados Unidos vai bater outro recorde. "As reservas de bilhetes esgotaram em julho e fizemos bancadas para meter mais gente. Vai ser a maior assistência da história e há muitas razões para isso. Temos música, isto começa a ser uma tradição, mas a série da Netflix deu um grande empurrão nas vendas. Haverá gente que nunca cá esteve e todos nos dão essa explicação", contou o americano.
Num ano com dez corridas ganhas por Lewis Hamilton e três por Valtteri Bottas, muitos espectadores passaram a apreciar os pilotos das equipas mais fracas devido a uma coincidência feliz: Mercedes e Ferrari não aceitaram participar na série filmada em 2018 e que foi estreada no passado dia 8 de março, deixando o palco para as equipas mais pequenas.
Lewis Hamilton está perto de ser campeão e o ano da Fórmula 1 tem sido uma cópia dos anteriores, mas as bancadas têm mais gente
E o segredo esteve mesmo aí, nas dez histórias, uma por episódio, de dramas pessoais como o de Charles Leclerc, das indecisões de Daniel Ricciardo ao trocar a Red Bull pela Renault, do despedimento de Esteban Ocon por ser o piloto mais pobre, dos azares de Romain Grosjean, ou da luta particular entre Carlos Sainz e Fernando Alonso pelo "título" de melhor espanhol. Pela primeira vez fez-se uma série dramática com acontecimentos reais.
Se, na Fórmula 1, houve hesitações perante uma abertura de "balneário" que nunca antes se vira no desporto, o êxito tem sido tal que a nova temporada, sobre esta época e a lançar em 2020, já vai contar com todas as dez equipas.