"Tudo o que sabia de Portugal era Ronaldo": a história do refugiado Farid Walizadeh que é apoiado pelo COP
Atleta pratica boxe e procura ir aos Jogos Olímpicos na equipa de refugiados
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Farid Walizadeh, atleta de boxe, originário do Afeganistão e que é apoiado pelo Comité Olímpico de Portugal (COP), é esta quarta-feira destaque na agência Reuters, contando a sua história e como quer um lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio'2020.
"Perdi a minha casa, a minha infância, a minha vida... Mas posso construir tudo de novo", afirma o jovem de 22 anos, que, aos sete, fugiu da cidade-natal, no nordeste do Afeganistão, rumo à Turquia, percorrendo 2500 quilómetros, maioritariamente a pé.
À chegada, Walizadeh foi detido por carregar uma mochila com droga que lhe tinha sido entregue por contrabandista no caminho, dizendo serem pacotes de açúcar.
Filho de pai militar e de uma mãe que deixou o Afeganistão vítima de perseguição religiosa, o atleta fugiu quando os conflitos chegaram a cidade onde vivia com os pais adotivos. "Não tive escolha, tive de fugir. No início éramos um grupo de 200 pessoas. Mas, como as montanhas do Afeganistão são secas e frias, fomos ficando cada vez menos", recorda. Após entrar no Paquistão, entrou sozinho num camião até à fronteira entre o Irão e a Turquia.
Aos nove anos, quando estava no orfanato em Istambul, começou a praticar kung-fu e taekwondo, como forma de auto-defesa.
Após cinco anos na capital turca, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados recolocou Walizadeh em Portugal. "Tudo o que sabia de Portugal era o Cristiano Ronaldo, mas tinha que tentar uma nova vida", recorda.
De regresso às artes marciais, optou pelo boxe e, volvidos cinco meses, tornou-se campeão ancional de cadetes, começando o sonho olímpico a ganhar forma quando o Comité Olímpico Internacional (COI) criou a equipa olímpica de refugiados no Rio'2016.
Atento a Walizadeh, o COP ajudou a receber uma bolsa do COI para treinar a tempo inteiro em busca de um lugar nos Jogos, tendo pela frente o torneio de qualificação olímpica europeu já no próximo mês, seguido do torneio de qualificação mundial em maio.
"Trabalho no duro. Quero mostrar que há sempre uma segunda chance se as pessoas quiserem... É por isso que quero ir aos Jogos. Se conseguir, os outros também conseguem", conclui.