Egan Bernal vai defender o título e é nele que a INEOS coloca todas as fichas.
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A INEOS despojou-se dos seus campeões para centrar-se em Egan Bernal na 107.ª Volta a França em bicicleta, uma aposta arriscada que alarga os horizontes dos favoritos a destronar o vencedor em título, com a Jumbo-Visma à cabeça.
Verão após verão, desde o já longínquo ano de 2012, que, de cada vez que o pelotão se fazia à estrada para enfrentar a mais emblemática e importante prova do calendário velocipédico internacional, a certeza era uma: no final, o triunfo sorriria à formação britânica, que venceu sete das últimas oito edições - a exceção foi mesmo 2014, quando uma sucessão de quedas na então Sky "entregou" a vitória ao italiano Vincenzo Nibali.
Contudo, a dois dias do arranque da 107.ª edição da "Grande Boucle", em Nice, paira no ar uma incerteza raras vezes sentida antes do Tour. Após uma longa paragem motivada pela pandemia da covid-19, que obrigou os ciclistas a treinarem em casa e a "apurarem" a forma sem os recursos habituais, as incógnitas em torno do colombiano, que, após vencer a Route d'Occitanie e ser segundo no Tour de L"Ain, deu sinais de debilidade no Critério do Dauphiné (acabou mesmo por desistir), são mais do que muitas.
A INEOS apostou todas as fichas no campeão em título, abdicando dos seus dois nomes mais sonantes - o quatro vezes vencedor do Tour, Chris Froome (2017, 2016, 2015 e 2013), e o vencedor de 2018 e segundo classificado do ano passado, o também britânico Geraint Thomas - e construindo um oito à imagem de Bernal, nomeadamente com três companheiros hispanófonos, um dos quais o equatoriano Richard Carapaz, o ainda "detentor" do Giro e, presumivelmente, o plano B da equipa britânica.
O colombiano, de 23 anos, vai procurar consolidar o potencial (e a fama) de futuro dominador do Tour, partindo de Nice como o único antigo vencedor presente e único representante do pódio da edição anterior, já que, além de Thomas, também o holandês Steven Kruijswijk vai falhar a 107.ª "Grande Boucle", neste caso por lesão.
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Com Kruijswijk ausente, caberá ao duo Primoz Roglic e Tom Dumoulin defender o terceiro lugar conquistado pela Jumbo-Visma em 2019 e, quiçá, melhorar o feito do seu companheiro. É, sobretudo, em Roglic que reside a esperança para colocar um ponto final numa era no ciclismo mundial: o antigo saltador de esqui impressionou no Dauphiné, antes de ser forçado a desistir devido a queda, e "bateu" Bernal no Tour de L"Ain, num "aviso" de intenções que deverá ser replicado até 20 de setembro nos 3.484,2 quilómetros até Paris.
O campeão esloveno de fundo, e vencedor da Volta ao Algarve de 2017, deverá mesmo ser o "número 1" da sua equipa, ofuscando Tom Dumoulin, o holandês "voador" que foi segundo no Tour em 2018 e regressa agora à prova onde foi feliz para tentar escrever uma nova página de glória nas "grandes Voltas", à semelhança do que fez em 2017, quando triunfou na Volta a Itália.
Os homens da Jumbo-Visma serão, em teoria, os grandes opositores à hegemonia da INEOS, mas a lista de candidatos, seja à vitória, ao pódio ou ao "top 10", é inusitadamente extensa, uma realidade explicada pelo facto de a pandemia de covid-19 ter "obrigado" à condensação da temporada velocipédica em pouco mais de três meses e ter colocado o Tour como primeira das "grandes Voltas" a ser disputada (as suas datas iniciais eram entre 27 de junho e 19 de julho), por troca com o Giro.
Desejosas de salvarem uma época atípica, e de compensarem os quatro meses de paragem, as equipas apostaram (quase) tudo na Volta a França, com os favoritos a oscilarem entre veteranos na luta pela amarela, como o colombiano Nairo Quintana, agora a solo como líder da Arkéa-Samsic, os franceses Romain Bardet (AG2R La Mondiale) ou Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), os espanhóis Mikel Landa (Bahrain-McLaren) e Alejandro Valverde (Movistar), e os "novatos", casos do colombiano Miguel Ángel López (Astana) ou do esloveno Tadej Pogacar (UAE Emirates).
Às sensações do ano passado, o francês Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep), que andou de amarelo durante 14 dias até à antepenúltima etapa e foi quinto na geral final, e o alemão Emanuel Buchmann (Bora-hansgrohe), quarto, resta confirmarem que a performance de 2019 não foi fruto do acaso, sendo previsível que o primeiro será um dos grandes animadores desta "Grande Boucle" diferente, na qual os 176 ciclistas terão ainda de lutar com a "ameaça" da covid-19 (dois casos numa equipa no espaço de sete dias significam a exclusão da prova), numa altura em que, em França, os casos voltaram a disparar.