"Se alguém me dissesse que estaria de amarelo e teria vencido uma etapa..."
Visma atacou Pogacar, mas só ganhou com Yates no sonho amarelo de Healy no Tour
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A Visma-Lease a Bike testou Tadej Pogacar, mas só conseguiu vencer a 10.ª etapa com Simon Yates, vendo ainda o esloveno "entregar" a amarela a Ben Healy, primeiro ciclista irlandês a liderar o Tour em 38 anos.
A organização da Volta a França desenhou uma etapa espetacular para comemorar o Dia da Bastilha e entretenimento não faltou nos 165,3 quilómetros entre Ennezat e Mont-Dore, onde o campeão do Giro'2025 chegou isolado com o tempo de 04:20.05 horas, após libertar-se dos seus colegas de fuga na derradeira subida, compensando os ataques fracassados da sua equipa ao líder da UAE Emirates.
Seis anos depois de triunfar por duas vezes na "Grande Boucle", o britânico voltou a vencer, à frente do neerlandês Thymen Arensman (INEOS), segundo a nove segundos, e de Ben Healy, terceiro a 31.
“Não estava à espera de ter uma oportunidade aqui, porque evidentemente estamos focados no Jonas [Vingegaard] e na geral. A etapa acabou por desenrolar-se de modo a estar na frente para lutar pela vitória”, assumiu Yates, de 32 anos.
Lançado “para o caso de acontecer alguma coisa” no grupo de favoritos, acabou por dar a única alegria do dia à Visma-Lease a Bike, derrotada por Pogacar, que, novamente, decidiu "entregar" a amarela a Healy para poupar-se e à sua UAE Emirates.
Aos 24 anos, o vencedor da sexta tirada deste Tour teve de aguardar expectante a chegada do esloveno para perceber que seria o quarto irlandês da história, e o primeiro desde Stephen Roche, em 1987, a vestir aquela camisola. “É inacreditável. Se alguém me dissesse que estaria de amarelo e teria vencido uma etapa antes do primeiro dia de descanso, não acreditaria”, resumiu o ciclista da EF Education-EasyPost, que lidera com 29 segundos de vantagem sobre ‘Pogi’ e 01.29 minutos para o belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), que fecha um pódio do qual o francês Kévin Vauquelin (Arkéa-B&B Hotels) ficou mais distante.
Em dia de feriado nacional e finalmente com a primeira jornada de descanso à espreita, o pelotão encarou entusiasmado o permanente sobe e desce entre Ennezat e Mont-Dore, com a fuga a ter iniciativa, sobretudo, de ciclistas locais, como Julian Alaphilippe (Tudor), Lenny Martinez (Bahrain Victorious), Bruno Armirail (Decathlon AG2R La Mondiale) ou os irmãos Paret-Peintre.
A luta entre a UAE Emirates e a Visma-Lease a Bike propagou-se a estas tentativas, com a equipa de Pogacar a responder a qualquer movimentação dos seus rivais, mas a não conseguir impedir que Yates e Victor Campenaerts se unissem a uma fuga de luxo. Nela, chegaram a estar quase três dezenas de corredores, incluindo ex-candidatos à geral, como Arensman e Ben O’Connor (Jayco AlUla), ou combativos como Healy e o seu colega Neilson Powless, Quinn Simmons (Lidl-Trek) ou Alexey Lutsenko e Michael Woods, da Israel Premier-Tech.
No entanto, à medida que as sete contagens de segunda categoria – um recorde de montanhas com esta cotação numa mesma etapa – foram sendo ultrapassadas, o grupo foi perdendo unidades, ao mesmo tempo que estabilizava a diferença para o pelotão, depois de a UAE Emirates, debilitada com a desistência de João Almeida, ter percebido que não poderia anular todos os ataques.
Já depois de Martinez ter assegurado a camisola às bolinhas vermelhas, honrando o seu avô Mariano Martinez, que ganhou a camisola da montanha na edição de 1978 e até venceu a etapa no Dia da Bastilha dois anos depois, o grupo partiu-se e o pelotão ficou mais longe.
Para a UAE, "entregar" a liderança ao irlandês, 11.º à partida, era a situação de corrida ideal, por isso, a vantagem da fuga chegou aos seis minutos.
Com os resistentes Healy, Yates, O’Connor, Simmons, Arensman e Michael Storer (Tudor) cientes de que iam discutir entre si a etapa, a Visma impôs um ritmo mais forte na frente do grupo de candidatos, antecipando um primeiro ataque de Matteo Jorgenson, ao qual Pogacar estava atento.
Embora sem companheiros de equipa, o campeão em título do Tour nunca deixou o quinto classificado da geral distanciar-se, enquanto lá à frente Simon Yates atacava nas pendentes mais duras do Mont-Dore e deixava definitivamente para trás os seus companheiros de jornada.
Depois de ser sucessivamente atacado, Pogacar simplesmente "humilhou" a formação dos Países Baixos, deixando todos para trás, à exceção de Vingegaard, com quem cortou a meta a 04.51 minutos do vencedor, após deliberadamente ter abrandado o ritmo para ceder a amarela.
O grande derrotado da jornada acabou por ser Vauquelin, que perdeu mais de 40 segundos para os dois últimos vencedores do Tour, que também ganharam três segundos a Jorgenson e Florian Lipowitz (Red Bull-BORA-hansgrohe) e seis a Evenepoel e Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe).
Numa jornada em que o seu líder Enric Mas também perdeu tempo, o português Nelson Oliveira (Movistar) foi 65.º e subiu à 54.ª posição da geral, a mais de 43 minutos de Healy, que vai se estrear de amarelo na quarta-feira, nos 156,8 quilómetros com início e final em Toulouse.