Aos 37 anos, Sara Moreira é o maior reforço do Feirense e revelou a O JOGO o desafio que lhe lançaram e o que ainda lhe falta alcançar na carreira
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Natural de Santo Tirso, Sara Moreira surpreendeu o Mundo ao estrear-se na maratona com um terceiro lugar em Nova Iorque. Foi em 2014, no ano seguinte ainda melhorou o registo na distância mais longa (2h24m49s), mas desde então foi alternando sucessos internacionais em outras distâncias com desistências nas maratonas.
Nome incontornável do atletismo português, a campeã europeia de meia-maratona em 2016 viu interrompida no final de outubro uma ligação de sete anos ao Sporting - que ajudou a ser campeão europeu tanto na pista como no crosse - e planeava inscrever-se como atleta individual, até que o Feirense mudou o seu rumo. Agora em novo clube, Sara Moreira mantém outra meta: quer terminar a carreira de alta competição em Paris"2024.
A saída do Sporting foi pacífica?
-Guardo memórias boas do Sporting. Foram sete anos de grandes conquistas e de resultados que me orgulham. Mas, tal como tudo na vida, os ciclos fecham-se e este foi mais um que encerrou. Agora tenho de me preparar para novos desafios. A saída do Sporting foi pacífica, dentro do possível.
Fica a ideia de que, por si, teria continuado...
-Eu nunca escondi, e o Sporting sabia disso, que a minha intenção é, em termos de alta competição, terminar em Paris"2024. Era dessa forma que eu estava no Sporting e acreditava que ia ficar até essa altura, mas o Sporting entendeu que eu já não fazia parte das opções e, como é óbvio, tive que respeitar isso.
Como surgiu o Feirense?
-Inicialmente achava que iria ficar como atleta individual, mas o CD Feirense apresentou-me um projeto que entendi ser interessante para estes dois anos de carreira. Por ser um clube com 100 anos de história, e que neste momento está a apostar na secção de atletismo, acreditei que podia ser uma mais-valia e decidi abraçar este projeto. Estou muito feliz. Foi inesperado, mas surgiu em boa hora.
Não vai sentir grandes diferenças?
-As primeiras impressões do clube são boas. Conheci as instalações e vi que são muito boas. Falta apenas uma pista, que eu acredito poderá vir a ser uma realidade, mas têm excelentes condições para a prática de algumas disciplinas. É um clube feito de pessoas trabalhadoras e empenhadas e eu só venho para acrescentar e dar-lhes o destaque que merecem. Venho para representar o "Castelo", como fizeram questão de me passar e, a partir de agora, visto de Castelo ao peito.
Disse planear mais dois anos de carreira. Que objetivos tem?
-O foco é Paris"2024, nunca o escondi. Consegui, até hoje, estar em quatro Jogos Olímpicos e gostaria muito de conseguir encerrar o capitulo de alta competição em Paris. No entanto, para que esse objetivo seja alcançado, tenho outros intermédios pelo caminho, aliando aos objetivos que o Feirense também tem a nível nacional, que é ganhar títulos. Acredito que isso é possível acontecer.
Quer ir a Paris"2024 como maratonista?
-O objetivo em Paris passa pela maratona, portanto terei que correr até lá algumas maratonas. Dependendo dos resultados, iremos definir quantas. Neste momento, além da qualificação por marca direta também há qualificação por ranking, portanto há várias corridas a contar para o ranking mundial e quero focar-me nisso para atingir o meu objetivo.
Até hoje somou muitas desistências na maratona. Porquê?
-Eu sou competitiva por natureza, sou exigente comigo mesma, e estaria a mentir se dissesse que fiz tudo conforme deveria ter feito. Provavelmente, houve momentos em que podia ter atingido outro resultado, mas o resultado é sempre fruto de muita coisa. Nós não somos máquinas, somos humanos. A parte mental e a física têm de estar em sintonia e, por vezes, isso não aconteceu. Mas quero acreditar que fiz foi o melhor que podia ter feito. Sou muito grata por tudo o que conquistei.
Ser mãe não afetou a sua carreira?
-Ser mãe e atleta ao mesmo tempo era algo que não acontecia. Antigamente, as atletas eram-no até ao final da carreira e só depois é que eram mães. Eu sempre quis ser mãe antes dos 30 anos, e fui, acreditando que podia ser atleta na mesma, como acabou por acontecer e na mesma com excelentes resultados. Provei que era possível, pois tive muitas vozes a dizer-me que não iria voltar a ser atleta. Portanto, era este o estigma que existia no meio.
Mas conciliar os dois papéis nem sempre deve ser fácil...
-Não é fácil conciliar tudo. Há um esforço extra, mas é possível, quando realmente queres e gostas daquilo que fazes.
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