Quebra no pelotão da Volta leva os diretores desportivos nacionais a lançar o alerta: “É preciso um safanão”.
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“Sou do tempo em que o Sporting ia ao Tour, a Sicasal à Vuelta e os melhores vinham cá. A Volta a Portugal precisa de um safanão, pois começa a não ser apetecível”, diz Manuel Correia, diretor desportivo da Gi Group-Simoldes e um dos técnicos mais reputados do pelotão português, pois pelas suas equipas passou a maioria dos grandes talentos nacionais da atualidade. “Temos de pensar bem no futuro e a subida de escalão da Volta seria importante”, remata o responsável da Oliveirense sobre um dos temas do momento: que fazer perante a realidade de a maior corrida portuguesa ter um dos piores pelotões da história?
Colocada no terceiro escalão das provas por etapas da União Ciclista Internacional (UCI) – 2.1, sendo o World Tour (2.WT) o topo e o 2.Pro o seguinte, existindo o 2.2 como mais baixo –, a Volta não recebe uma equipa do maior escalão mundial desde a última presença da Movistar, em 2021, e as formações da segunda divisão (ProContinental) baixaram de quatro para a resistente Caja Rural, de Iúri Leitão. A época, que abriu com a Volta ao Algarve a conseguir o melhor pelotão mundial depois das corridas World Tour, atinge agora o pico tendo outro reduzido a 111 ciclistas e possuindo apenas 20 entre os melhores 1000 do ranking PCS, único que analisa a qualidade das provas. Para os responsáveis das equipas portuguesas, os alarmes soaram.
“A Volta era de um escalão acima no anterior sistema. Agora sente dificuldades para conseguir uma boa participação e a solução será a subida. Se uma corrida não dá pontos, só chama as equipas com dinheiro. Para subir terá de aumentar o orçamento, mas ficará mais atrativa”, diz Gustavo Veloso, que dirige a Tavfer-Ovos Matinados e não se preocupa com a concorrência de equipas poderosas. “Correr contra equipas World Tour é uma limitação, mas obriga-nos a fazer mais. A diferença de qualidade dos nossos atletas para os melhores portugueses, que estão lá fora, não é tanta como parece”, acredita o galego que venceu duas vezes a Volta.
Para Rúben Pereira, da Anicolor-Tien21, “a Volta merece subir de escalão”. “Pelo público que tem, pela estrutura e envolvência, pela história, a corrida merece um espetáculo de nível superior. Se calhar contra nós falamos, mas um pelotão mais atrativo teria outro interesse. Em 2021 tivemos a Movistar e foi importante para todos”, diz o diretor desportivo da equipa lusa mais forte, preparado para ter de “oferecer mais”.
“Com uma subida ficaríamos todos a ganhar, equipas e organização. Aliás, até acredito que existiria mais equilíbrio, não haveria uma só equipa a parecer bastante superior. Sabemos que é difícil, mas Portugal deveria lutar pela promoção”, atira Joaquim Andrade, da Feirense-Beeceler e também adepto da mudança. Américo Silva, da Aviludo-Louletano, está de acordo e lembra que “as últimas edições foram bem disputadas, com muitas equipas na discussão, e não achei prejudicial que, há dois anos, fosse uma estrangeira a ganhar, pois houve uma igualdade a nível competitivo”.
Algarve no topo, Volta a cair
Segundo o ranking PCS, único existente para categorizar as corridas internacionais, a Volta ao Algarve deste ano teve um pelotão a valer 645 pontos (medido pelo ranking dos ciclistas presentes), o 31.º melhor do mundo e primeiro em corridas por etapas abaixo do World Tour. Foi (só!) o sexto melhor ano da corrida ganha por Jonas Vingegaard, mas fez dela uma das mais categorizadas da atualidade. Seguiu-se a Clássica da Figueira (312 pontos e 67.º lugar mundial) e o Grande Prémio das Beiras (45), até esse acima dos parcos 29 pontos da Volta a Portugal, que entre 1996 e 2001 (organizações do “JN”) esteve sempre acima dos 200 pontos e chegou a ter sete ciclistas do top 100. Atualmente, o pelotão é dos mais fracos do terceiro escalão (2.1) a nível mundial...